Segundo a Variety, a gravadora BMG abriu processo de demissão do cantor e compositor Roger Waters, ex-líder da lendária banda Pink Floyd. O motivo são as declarações polêmicas do músico contra o Estado de Israel.

A Variety adianta que as críticas explosivas de Waters sobre Israel, Ucrânia e Estados Unidos serviram de ultimato para a decisão da BMG. A revista acrescenta que, apesar de Waters ter sido contratado com estardalhaço em 2016, a mudança no comando da gravadora do CEO fundador Hartwig Masuch para Thomas Coesfeld em julho do ano passado, findou o tempo do ex-líder do Pink Floyd. Coesfeld é ligado à família que administra a Bertelsmann, companhia multimídia dona da BMG. A Bertelsmann emitiu um comunicado oficial de solidariedade a Israel após o ataque do Hamas em outubro passado.
As declarações de Waters têm sido bastante discutidas nos últimos anos e pesa contra ele a pecha de “antissemita”, embora, por suas declarações em si, é possível entender que o compositor tem uma crítica ferrenha ao Estado de Israel, principalmente, ao modo como ele trata o povo palestino, no que denuncia ser um caso de genocídio. Mas parte da imprensa e outros movimentos sociais detratam o posicionamento de Waters, tentando até boicotes aos seus shows, como ocorreu recentemente na Alemanha (curiosamente, o país de sua gravadora). Seu ex-parceiro de banda, o guitarrista David Gilmour, também deu declarações referendando as acusações de antissemita.

Gilmour e Waters possuem uma disputa de décadas, pois a cisão entre os dois deixou o trabalho no Pink Floyd impossível no início dos anos 1980, o que levou Waters a sair da banda em 1985 e tentar judicialmente impedir que o restante dos companheiros usassem o nome da banda, no que não foi bem-sucedido, e Gilmour liderou o Pink Floyd por mais uma década com os demais membros. A dupla viveu um período de trégua a partir dos anos 2000, com Waters se reunindo à banda em um concerto especial no Live 8, em 2005, e a dupla tocando junto em algumas ocasiões, como na abertura da turnê The Wall de Waters, em 2011, baseada no álbum que a banda lançara em 1979. Mas as questões políticas envolvendo Israel e a Ucrânia parecem ter cindido novamente as relações entre eles.
Em uma polêmica declaração no Conselho de Segurança da ONU, ao qual fora convidado, Waters afirmou que a invasão da Rússia à Ucrânia não veio sem provocações, e algo próximo a uma defesa dos russos no conflito de seus vizinhos menores e menos poderosos criou um grande mal-estar internacional. David Gilmour, inclusive, reativou o Pink Floyd para gravar um single com uma canção tradicional ucraniana, cantada por um cantor ucraniano como peça filantrópica.
A ruptura com a BMG, contudo, não é inesperada, a despeito do furo da Variety. O próprio Waters já havia afirmado que seria demitido em uma entrevista para o jornalista Glenn Greenwald em seu canal no YouTube, em novembro passado. E quando o músico decidiu lançar uma nova versão do álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, de 1973, sua obra mais reconhecida, agora, como um álbum solo gravado durante a pandemia, a BMG se recusou a fazê-lo e Waters o lançou pela Cooking Vinyl.

