Numa virada de eventos inesperada, foi noticiado ontem que o grupo Amazon assumiu o controle criativo da franquia de 007, cuja direção desde sempre coube à EON Productions, empresa controlada por Barbara Bróccoli e Michael G. Wilson, filhos de Albert R. Broccoli, que deu início à série de filmes em 1962. O anúncio foi dado por Mike Hopkins, chefe da Amazon MGM Studios e da Amazon Prime Video.

Fundada por Albert R. Broccoli e Harry Saltzman (este último depois deixou a sociedade) em 1961 para produzir o primeiro dos filmes de 007, a EON Productions controlou a franquia de James Bond desde o início, comprando os direitos de adaptação do personagem literário criado pelo escritor Ian Fleming. Depois da morte de Fleming, em 1965, a EON terminou por comprar o legado literário de 007 também, sendo, portanto, os proprietários do personagem e seu universo. Albert Broccoli morreu em 1996 e seu legado foi assumido pelos filhos Michael G. Wilson (que já atuava como roteirista da série) e Barbara Broccoli (que já atuava na produção dos filmes).

Entre 1962 e 2021, a franquia 007 gerou 25 filmes oficiais e o agente secreto mais amado do mundo foi interpretado por seis atores diferentes: Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig. A primeira parte da franquia funcionou como um tipo de história seriada, embora sem muita preocupação de continuidade e renovada no tom diversas vezes, do humor irônico e ação brutal dos filmes dos anos 1960 para a comédia quase pastelão requintada com ação frenética dos anos 1970, uma guinada à seriedade e violência na segunda metade dos anos 1980, e uma abordagem mais “moderna” (com menos sexo, diminuição do machismo, abolição do cigarro e restrição da bebida), humor sutil e ação mais fantástica nos anos 1990. A última perna da franquia, a partir de 2006, promoveu um reboot, com a história de James Bond voltando ao início numa série de filmes mais realistas, mais “politicamente corretos”, sérios e humanos, bastante sinalizados aos problemas contemporâneos e abraçando a continuidade de modo intenso, como nunca antes na franquia.
Durante décadas, as produções de 007 foram distribuídas pela MGM Studios, que terminou por adquirir uma fatia da propriedade da franquia, ainda que a EON tivesse maioria e o controle criativo. Anos atrás, a MGM foi vendida à Sony Pictures e isso criou alguns imbróglios, e mais recentemente, a Sony vendeu a MGM para a Amazon.

O arranjo anterior – de controle da EON – se manteve até então, porém, nos últimos tempos, surgiram relatos públicos de desavenças entre Barbara Broccoli e Hopkins, pois a Amazon tinha planos para expandir a franquia, fazendo mais filmes e criando derivados como séries de TV e coisas do tipo, algo que a EON era totalmente contrária, já que preferia manter o personagem mais contido, restrito ao cinema e aos livros.

O embate criativo é um dos principais motivos pela demora em retomada da franquia, que encerrou um longo ciclo em 007 – Sem Tempo para Morrer, de 2021, do qual se despediu o ator Daniel Craig após uma série de cinco filmes, dando um fim à história do espião. A ideia era reiniciar a história com um novo ator, mas desde então, a produção de um novo filme não avançou praticamente em nada, e Broccoli insistia que era preciso redefinir quem era Bond para o século XXI e as novas agendas políticas e identitárias.
Nos últimos anos, correram muitos boatos de que o próximo Bond deveria ser um ator de ascendência africana – com Idris Elba sendo o mais cotado – ou mesmo convertido em uma mulher, mas esse tema nunca foi oficializado, ainda que Barbara tenha dito que Bond poderia ser de qualquer etnia, mas teria que ser um homem.
Agora, fica mais claro que o atraso estava relacionado aos embates com a Amazon, cujo o proprietário, Jeff Bezos, tem uma agenda política totalmente oposta à de Broccoli, sendo um ferrenho apoiador do presidente Donald Trump, e portanto, não devemos esperar políticas identitárias sendo adotadas na nova versão da franquia que irá emergir em breve, como se deu em anos recentes, com personagens coadjuvantes revelados como parte da população LGBTQIA+ ou mudados para a etnia afrodescente contra suas versões caucasianas nos livros originais.
É provável que a Amazon também invista na ampliação da franquia, produzindo séries de TV derivadas ao estilo dos universos compartilhados como os da Marvel e filmes explorando outros personagens que não o protagonista.

E logo após o anúncio, Jeff Bezos já provocou os fãs perguntando no X (ex-Twitter) quem eles queriam ver como o novo James Bond, inflando as especulações sobre qual ator deve protagonizar a franquia daqui em diante. De um modo geral, os fãs apontam nomes como Henry Cavill (o Superman do DCEU) e Tom Hardy (da franquia Venom), embora ambos possam ser considerados um pouco mais velhos do que se poderia esperar para um ator que se comprometa com uma série de pelo menos três filmes, quiçá quatro.
Cavill tem alguma vantagem, pois foi um dos finalistas na disputa pelo papel em 2005, embora ironicamente, na época, tenha sido considerado jovem demais, e preterido por Daniel Craig, que estreou em Cassino Royale no ano seguinte e fez outros quatro filmes até 2021.

Um ator mais jovem que vem rondando os rumores é Aaron Taylor–Johnson (de Kraven, o Caçador), que tem a idade certa para um comprometimento de longo prazo. Tom Hiddleston (de Loki) é outro nome bastante forte nas rodas de apostas. Regé-Jean Page (de Bridgerton) também é cotado caso os novos produtores estejam interessados ou abertos a mudanças étnicas.
O acordo no qual a EON passou o controle criativo de 007 à Amazon foi de US$ 1 bilhão, segundo o The Wall Street Journal. Michael G. Wilson está se aposentando do cinema e segundo informes esse foi o motivo que fez sua irmã, Barbara Broccoli, decidir abrir mão do controle e se dedicar a outros projetos. A dupla continua como coproprietária da marca, mas agora, sem estar na liderança das ações e nem na tomada de decisões.
Em vista do intervalo de quatro anos desde o último filme de Bond, apostamos que a Amazon irá correr e apressar a produção do relançamento da franquia, que deverá reiniciar do zero a história do espião britânico à serviço da monarquia. Novidades devem chegar em breve.

