No dia 08 de novembro último ocorreu a premiação do Rock and Roll Hall of Fame em Los Angeles, e entre os premiados a ingressar na “turma de 2025” do corredor da fama mais injusto da indústria musical, estava uma inesperada, mas merecida homenagem: o pianista Nicky Hopkins recebeu o prêmio Musical Excellence. Pouco conhecido, Hopkins foi um dos mais importantes músicos de estúdio do rock clássico e alguém que abrilhantou canções de Beatles, Rolling Stones, The Who, The Jeff Beck Group, John Lennon, George Harrison, Jefferson Airplane, Rod Stewart, Joe Cocker e muitos e muitos outros.

Nascido em Perivalle, uma cidadezinha da região metropolitana de Londres, em 24 de fevereiro de 1944, Hopkins começou a estudar piano aos três anos de idade, e após aulas com um professor local, na adolescência ganhou uma bolsa de estudos para a Royal Academy of Music, em Londres, onde aperfeiçoou suas habilidades. Porém, fã de rock e de blues, o garoto foi tentado pelas benesses da vida de músico e, em 1960, aos 16 anos de idade, se juntou à banda Screaming Lord Scrutch and the Savages, um grupo de R&B (blues elétrico) e uma das bandinhas que surgiu em torno do lendário The Blues Incorporated, o primeiro grupo de blues elétrico de Londres, fundado por Alex Korner.

Hopkins tocou com o Incorporated, fazendo seu piano abrilhantar performances de músicos como Jack Bruce (futuro Cream) e Brian Jones (fundador dos Rolling Stones). Em 1962, os Savages encerraram as atividades e seus membros se uniram ao gaitista Cyrill Davies, que saiu do Incorporated para formar seu próprio grupo: Cyrill Davies and the All-Stars, que contou com participações do guitarrista Jimmy Page (futuro Led Zeppelin) e o vocalista Long John Baldry. Este grupo gravou seu primeiro single Country line special em fevereiro de 1963, um marco histórico para o R&B britânico e cujo piano de Hopkins é um dos grandes destaques.
Contudo, após apenas dois meses depois, Hopkins precisou se submeter a uma cirurgia no estômago, pois era portador da Doença de Crohn e houve complicações que o deixaram 19 meses hospitalizado (!), encerrando sua participação no grupo. Enquanto ainda estava no hospital, Cyrill Davies morreu de leucemia em janeiro de 1964 e os All-Stars se transformaram em Long John Baldry & the Hoochie Coochie Men, que tinha Rod Stewart nos vocais.

O pianista só deixou o hospital em dezembro de 1964 e sua saúde frágil, a partir de então, se tornou um impeditivo para tocar numa banda e, principalmente, sair por aí fazendo turnês e shows. Por isso, decidiu usar seus contatos no meio musical para trabalhar como sessionman (músico de estúdio), inspirado na bem sucedida carreira que o guitarrista Jimmy Page exercia na época nos estúdios de Londres. Por isso, o produtor Shel Talmy o convidou para tocar com uma banda estreante chamada The Who, para qual Hopkins contribuiu em seu primeiro álbum, My Generation (1965), que foi um grande sucesso, tocando também no álbum Kink Kontroverse (1965) do The Kinks, banda que se tornou sua principal empregadora pelos anos seguintes. Talmy também produziu o primeiro álbum solo dele: The Revolutionary Piano of Nick Hopkins (1966), um disco instrumental com covers de canções standart e alguns números de rock, como Satisfaction dos Rolling Stones e Yesterday dos Beatles.

Após tocar em uma série de hits de música pop naqueles anos, Hopkins foi convidado pelos Rolling Stones a contribuir no álbum Their Satanic Majesty Request (1967), na qual se destaca em faixas como She’s a rainbow e no single We love you, com o pianista retornando para o álbum Beggars Banquett (1968), em faixas como Sympathy for the devil, No expectation e Street fightin’ men, se apresentando ao vivo com a banda no especial para a TV Rock’n’Roll Circus. Naquele ano de 1968, Hopkins foi convidado pelos Beatles a fazer o solo de Revolution, que gravou em apenas um take, e também tocou no álbum Truth (1968) do The Jeff Beck Group.

Após participar das sessões de Let it Bleed (1969) dos Rolling Stones, em faixas como Gimme shelter e Monkey man, Hopkins considerou que estava bem o suficiente de saúde para voltar a ingressar de verdade em uma banda, se tornando um membro fixo do The Jeff Beck Group, gravando o álbum Beck-Ola (1969) e embarcando em uma turnê pelo Reino Unido e nos Estados Unidos. Estava programada a apresentação da banda no Woodstock Festival, em agosto de 1969, mas o ego inflamado de Beck e as brigas internas levaram ao fim da banda antes mesmo do show. Ainda assim, Hopkins teve tempo de conhecer e interagir com algumas bandas de San Francisco, na Califórnia, o que fez com que o pianista se apresentasse em Woodstock não uma, mas duas vezes (!), tocando com o The Jefferson Airplane e o Quicksilver Message Service.

Hopkins fundou o grupo Sweet Thursday com músicos americanos, porém, a gravadora de seu disco faliu logo em seguida, e a banda terminou por se desfazer, o que levou o pianista a gravar com Jefferson Airplane e The Steve Miller Band, antes de se tornar um membro fixo do Quicksilver Message Service, com o qual gravou três álbuns: Shady Grove (1969), Just For Love (1970) e What About Me (1970). Após sair desse grupo, ele retornou à Inglaterra em 1971, o que o levou a tocar no álbum Imagine (1971) de John Lennon, inclusive, com grande destaque em faixas como Jealous guy e How?; e Who’s Next (1971) do The Who, especialmente, em The song is over e Getting in tune; além de Sway dos Rolling Stones no álbum Sticky Fingers (1971).

Hopkins tocou com os Stones na Good-Bye Britain Tour e, em seguida, se reuniu com a banda no sul da França para a gravação do lendário álbum Exile on Main Street (1972), no qual toca em 14 das 18 faixas, inclusive, Rock off, Tumbling dice, Sweet Virginia, Happy e várias outras. Em 1972, Hopkins lançou o álbum Jamming with Edward, uma série de jam sessions gravadas com os Rolling Stones sem Keith Richards durante as sessões de 1969 para Let it Bleed, e saiu em turnê com os Stones na lendária excursão pelos Estados Unidos naquele ano. O pianista lançou seu segundo álbum solo, The Tin Man was a Dreamer (1973), além de tocar em Ringo (1973) de Ringo Starr e Living in the Material World (1973) de George Harrison. Hopkins também tocou no álbum Goats Head Soup (1973) dos Stones, na qual há o hit Angie, onde o piano é o instrumento principal, e na turnê pelo Pacífico, no Havaí, Nova Zelândia e Austrália.

Em 1974, ele tocou de novo com George Harrison em Dark Horse (1974) e com John Lennon em Wall and Bridges (1974), que incluiu hits como Wathever gets you thru the night e #9 dream, bem como no álbum I Can Stand a Little Rain (1974) de Joe Cocker, que incluiu o grande hit You are so beautiful. Em 1975, o pianista lançou seu terceiro e último álbum solo, No More Changes (1975).
Depois disso, a saúde de Hopkins começou a declinar de novo, por causa da Doença de Crohn, piorada pelo uso de álcool e drogas, mas ainda assim, o pianista contribuiu com artistas como Rod Stewart, Art Garfunkel, George Harrison, Badfinger, Jerry Garcia, The Who em Who By Numbers (1975), a trilha sonora do filme Tommy (1975, baseada na ópera rock do The Who) e os Rolling Stones nos álbuns It’s Only Rock’n’Roll (1974) e Black and Blue (1976), mas por meio de gravações prévias, ainda apareceu em Emotional Rescue (1980) e Tattoo You (1981).

Nos anos 1980, o pianista diminuiu progressivamente seu trabalho, ainda aparecendo em obras de Meat Loaf, Dusty Springfield e Paul McCartney em Flowers in the Dirt (1989), e nos anos 1990, gravou algumas trilhas sonoras para o cinema japonês e apareceu em álbuns de Spinal Trap e Joe Wash. Hopkins se estabeleceu na Califórnia, em Mill Valley, gravou com alguns músicos menos conhecidos da região e terminou envolvido na religião da Cientologia em seus últimos anos.
Nicky Hopkins morreu após as complicações de uma cirurgia no intestino, em 06 de novembro de 1994, aos 50 anos de idade.
Tendo tocado com alguns dos artistas mais importantes da história do rock e contribuindo com magníficas passagens de piano em clássicos imortais, Nicky Hopkins tem, sem sombra de dúvidas, um lugar merecido no panteão do rock.
O Rock and Roll Hall of Fame de 2025 incluiu os nomes de Bad Company, Soundgarden, Cyndi Lauper, The White Stripes e Joe Cocker aos homenageados.

