No dia 20 de novembro, um leilão da empresa americana Heritage Audictions vendeu uma cópia original da revista Superman 01, datada do verão de 1939, pela bagatela de US$ 9,12 milhões, transformando-a na mais cara HQ já vendida em todos os tempos, batendo o recorde anterior que era do próprio homem de aço!
A notícia foi dada pelo The Hollywood Reporter, que diz que a raridade estava em excelente estado de conservação, com uma nota 9,0 (de 10,0) da Certified Guaranty Company (CGC), que padroniza a classificação das condições de revistas velhas raras. A revista pertencia a uma família comum, não um colecionador profissional (que já povoam esse mercado há pelo menos duas décadas). Segundo o jornal, a mãe de três senhores comprou a Superman 01 na época de seu lançamento original, quando ela tinha 9 anos de idade, na região de San Francisco, na Califórnia, e mais tarde, ao perceber a valorização que esse tipo de artigo tem no mercado de leilões, disse aos filhos que tinha tinha alguns quadrinhos bem raros em algum lugar de sua casa, mas não se lembrava onde. A senhora morreu pouco antes da pandemia de 2020 e a casa dela ficou fechada todos esses anos até os filhos decidirem fazer um inventário das coisas dela e descobriram o tesouro que ela guardava no sótão.
Antes desse recorde de 9,12 milhões de dólares, a HQ mais cara já vendida era outra do Superman: uma cópia de Action Comics 01, datada de junho de 1938, revista que traz a estreia do homem de aço, havia sido vendida no ano passado por US$ 6 milhões, enquanto outra cópia de Superman 01 fora vendida por 5,3 milhões, em 2022. O quarto lugar da lista é uma cópia de Amazing Fantasy 15, de agosto de 1962, que traz a estreia do Homem-Aranha, que foi vendida por 3,6 milhões em 2021.
O THR reconhece que os preços de HQs raras têm caídos nos últimos anos – o que pode estar associado (dizemos nós) com o inchaço do mercado (que elevou os preços a patamares altos demais), escassez de novos materiais (afinal, são mais ou menos sempre as mesmas HQs e o mesmo círculo de colecionadores) e (não podemos deixar de pensar) a queda nas bilheterias dos filmes de super-heróis pós-pandemia, o que, sem dúvidas, diminui o valor de mercado dos super-heróis. Contudo, este exemplar em particular tem o apelo de vir “de fora” do mercado de colecionadores e ser um item novo, descoberto em um sótão ordinário em San Francisco. é quase um milagre!
Apesar do título Superman 01, o homem de aço fora criado pela dupla de artistas Jerry Siegel e Joe Shuster e estreara na revista Action Comics 01, de junho de 1938, pela editora National Periodicals, hoje conhecida como DC Comics. O personagem fez um enorme sucesso e, rapidamente, a editora encomendou a produção de tiras de jornal, que estrearam no início do ano de 1939. Mas as vendas mensais de Action Comics eram tão altas que a DC decidiu lançar uma revista com o título do herói, pois naqueles tempos, os personagens (todos eles) eram publicados em revistas de antologia (que traziam várias histórias de vários personagens, alguns fixos, outros circulantes), em títulos genéricos como More Fun Comics, Adventure Comics, Detective Comics e Action Comics, que eram as revistas da DC.
Superman 01 foi a primeira revista em quadrinhos dedicada exclusivamente a um único personagem e foi lançada no verão de 1939 com o intuito de situar os novos leitores das origens do herói, numa época em que não existiam republicações de histórias anteriores, e Action Comics já estava no número 14 em julho daquele ano. Por isso, Superman 01 trouxe, basicamente, apenas republicações das primeiras quatro histórias do homem de aço, anteriormente saídas em Action Comics 01 a 04, com o bônus de uma “quinta” história inédita, que na verdade, era o preâmbulo da primeira história (que tinha sido feita, mas não publicada na época) e trouxe também um conto em prosa sobre o herói. A nova parte também trouxe uma origem ligeiramente mais detalhada do herói do que aquela originalmente divulgada em Action Comics 01, embora, ainda assim, muito econômica. Os roteiros eram de Jerry Siegel e os desenhos de Joe Shuster, mas este já tinha dois assistentes anônimos na figura de Paul Cassidy e Wayne Boring.
É possível que a DC Comics, na figura do editor Vin Sullivan, e dos proprietários da empresa, o empresário Harry Donenfeld e seu contador e “laranja” Jack Liebowitz, tenham pensado em Superman (a revista) como um número único, apenas para sanar a curiosidade dos centenas de milhares de novos leitores que consumiam Action Comics todos os meses (a tiragem da revista já estava chegando a algo entre 800 mil e 1 milhão de unidades vendidas, uma tiragem equivalente, à época, à revista Time), tanto que Superman sequer tinha o “número 01” estampado na capa. Mas a vendagem foi tão alta que a DC decidiu torná-la uma publicação fixa, com periodicidade trimestral (uma para cada estação do ano), com Superman 02 (agora apenas com histórias inéditas) chegando às bancas no outono daquele mesmo ano de 1939.
Dali em diante – e até os dias de hoje, 86 anos depois – as revistas Action Comics e Superman passaram a publicar, cada uma, histórias do homem do amanhã, embora, claro, Superman tenha passado a periodicidade bimestral e depois mensal em alguns anos. Ambas continuam em circulação mensal e Action Comics já ultrapassou o número mil há bastante tempo.
O encontro e a venda da revista veio em um bom momento para seus proprietários, pois o Superman teve um bom ano, com o lançamento de um novo filme chamado Superman, dirigido por James Gunn, inaugurando o novo DCU, o universo cinematográfico da DC Comics, e que fez sucesso no cinema e no streaming.
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