
Em dezembro, a Marvel Comics fez um anúncio que pode representar uma grande empreitada: a editora que publica alguns dos mais populares heróis do planeta – entre os quais Homem-Aranha, X-Men e os Vingadores (Capitão América, Hulk, Thor e Homem de Ferro) – irá investir em livros de prosa que irão adaptar suas revistas mais famosas.
Transportar histórias em quadrinhos para livros, romances, não é exatamente uma novidade, mas é uma prática que está em desuso nos últimos anos. Contudo, o momento é um dos mais oportunos para isso: diferente de dez anos atrás, agora existe um público jovem (pré-adolescente, adolescente e juvenil) predisposto a ler livros, fruto de uma década de sucessos literários para essa faixa etária, com Harry Potter e Crepúsculo à frente.

A Marvel vai iniciar sua empreitada em grande estilo: a primeira história adaptada como livro será Guerra Civil, adaptada para romance por Stuart Moore, uma minissérie que mudou totalmente a cronologia do Universo Marvel quando publicada em 2007. Escrita originalmente por Mark Millar (de O Procurado, Kick-Ass e Os Supremos) e desenhada por Steve McNiven, a minissérie foi publicada em sete partes e mostra uma história impactante:
Os Novos Guerreiros, uma equipe de terceira categoria formada por jovens heróis, gravam um reallity show em que caçam criminosos e encontram um time de supervilões em uma pequena cidade. Ao tentar confrontá-los, os jovens, sem querer, causam um acidente que resulta na morte de 600 pessoas (a maioria crianças de uma escola) e faz o Congresso votar rapidamente uma Lei de Registro de Superseres, obrigando a todo mundo que têm superpoderes ou habilidades especiais a se registrar, revelar sua identidade secreta e endereço e trabalhar para o Governo dos EUA, que se encarregaria de treiná-los e ocupá-los.
Tony Stark, o Homem de Ferro, agora é o Secretário de Defesa dos EUA e Diretor da SHIELD, acata e apoia o Registro, enquanto a maioria de seus companheiros nos Novos Vingadores, como o Capitão América, Luke Cage e Wolverine, são contra. Fazendo valer a nova Lei, Stark declara seus ex-amigos como fugitivos da justiça e termina liderando um grupo de heróis a favor do Registro para perseguir a facção contrária. Dessa vez, então, não há vilões a serem combatidos, é um conflito entre heróis, origem da Guerra Civil entre os super-heróis da Marvel.

Além de Stark, os favoráveis ao Registro incluem Reed Richards do Quarteto Fantástico e o membro fundador dos Vingadores Hank Pym (Homem Formiga e Gigante), mas as ações deles excedem os limites éticos quando criam uma prisão para prender os ex-colegas na Zona Negativa (uma outra dimensão) e tentam clonar Thor, que à época estava desaparecido. Essas atitudes, por exemplo, levam o Homem-Aranha, que apoiava o Registro, a mudar de lado, aderindo à facção “fora da lei”. Mas isso depois de ter divulgado publicamente sua adesão ao Registro e, pior, ter revelado sua identidade secreta na frente das câmeras de TV!

É estabelecida uma série de conflitos físicos entre os heróis, ex-amigos, até que resulta na morte de um deles, o Golias Negro, um ex-membro dos Vingadores. Em vista dos estragos causados e da falta de sentido em seguir lutando, o Capitão América até vence o Homem de Ferro em uma luta, mas decide encerrar o conflito, se entrega às autoridades e é preso.

As consequências da minissérie, contudo, continuaram reverberando pelo Universo Marvel. Na revista do Capitão América, o escritor Ed Brubaker e o desenhista Steve Epting mostram Steve Rogers sendo levado à justiça. Porém, o mais respeitado dos heróis do Universo Marvel termina sendo assassinado nas escadarias do tribunal, numa das histórias mais impactantes daquela década e que causou grande sensação na mídia internacional.
Na revista do Homem-Aranha, escrita por J.M. Straczynski, Peter Parker tem que lidar com o duplo fardo de ser um fora da lei e todos saberem sua identidade secreta. (Este detalhe, depois, foi removido da cronologia em uma história polêmica).
Na revista de Thor, também escrita por Straczynski, o deus do trovão retorna à Terra e vai tirar uma violenta satisfação com Tony Stark por causa da morte do Capitão América e o que ele considera um ato de alta traição.



Nas revistas dos Vingadores, escritas por Brian Michael Bendis, é mostrada as consequências do fim da Guerra Civil e da morte do Capitão América. Tony Stark cria um programa chamado Iniciativa Vingadores, que treina jovens superpodersosos sob a tutela do Governo dos EUA, comandado por Hank Pym. Além disso, o Homem de Ferro lidera uma nova formação dos Vingadores com os heróis a favor do Registro, como Sentinela, Miss Marvel e Ares, o deus da guerra.

Enquanto isso, os heróis contra o Registro são foras da lei, perseguidos pelas autoridades e tendo que viver escondidos. Ainda assim, Luke Cage, Wolverine, Ronin (ex-Gavião Arqueiro), Dr. Estranho, Punho de Ferro e outros decidem permanecer unidos como uma nova formação dos Novos Vingadores.
Em seu contexto original, a Guerra Civil e suas consequências são uma boa metáfora da política ufanista e belecista dos EUA na Era Bush e uma grande crítica a tudo isso. Abdicar da Liberdade em troca de uma pretensa segurança, como queria o Governo Bush, não é uma opção aceitável, diz o Capitão América na saga.
Sua adaptação como um livro – e quem sabe num futuro distante como um filme – pode render frutos muitos bons.
Atualmente, Guerra Civil está disponível nas livrarias brasileiras como um encadernado publicado pela editora Panini Comics (que reedita o material da Marvel no Brasil). O HQRock recomenda: é uma das melhores histórias já escritas dos Vingadores. Se você quer ler uma única história dos Vingadores em quadrinhos, leia essa.
Em tempo, é importante ressaltar que a editora concorrente DC Comics investiu bastante em livros que adaptavam seus personagens nos anos 1990. Batman teve vários, inclusive de contos, surfando na popularidade de seus filmes de Tim Burton; enquanto histórias como A Queda do Morcego e Terra de Ninguém foram lançadas como romances escritos por Dennis O’Neil e Greg Rucka, respectivamente. O Superman também teve os seus livros, inclusive, adaptando a famosa história A Morte do Superman, feito por Louise Simonson, uma das escritoras da obra original.



Produções da DC para outras mídias também já viraram livros, como um livro sobre a série de TV Smallville, escrito por Roger Stern e duas adaptações do filme Superman – O Retorno (uma juvenil e outra adulta). Infelizmente, nenhum destas obras causou grande sensação, apesar de algumas serem resenhadas como muito boas.
A entrada da Marvel nesse segmento pode mudar as coisas?





