Segundo o colunista Amaury Jr., no UOL Splash, enquanto divulgam seu novo single e promovem o vindouro álbum novo, os Rolling Stones virão ao Brasil em turnê em 2024 e terão uma banda brasileira nos shows de abertura, sendo os Titãs os mais prováveis.

A informação é que os Stones aportarão no Brasil em março de 2024, dentro da perna latino-americana da turnê que irão iniciar para promover o álbum Hackney Diamonds, que chega às lojas físicas e virtuais no dia 20 de outubro próximo. O grupo já adiantou o single Angry, com um belo videoclipe estrelado pela atriz Sydney Sweeney que mostra a banda tocando essa faixa em várias épocas de sua carreira por meio de outdoors animados.
Veja o clipe:
Essa será a quinta vez que os Stones vêm tocar no Brasil, tendo realizado shows por aqui em 1995, 1998, 2006 e 2016. Infelizmente, até hoje, o grupo só fez um punhado de concertos e nunca uma turnê mais extensa, ao contrário de colegas roqueiros como Paul McCartney ou Coldplay, que já rodaram por várias capitais do país. Neste sentido, o grupo de Jagger, Richards e Wood é mais conservador, sempre concentrado no eixo Rio-São Paulo, à exceção de um show em Porto Alegre em 2016.
Isso é curioso, em vista que a banda tem uma histórica relação com nosso país, com Mick Jagger e Keith Richards tendo vindo ao Brasil de férias já em 1968 e 1969, em cada experiência compondo um clássico da carreira do grupo: Sympathy for the devil (que até mimetiza o samba brasileiro) e Honky tonky women, inspirada na vida rural brasileira que vivenciaram no interior de São Paulo. Depois disso, as visitas continuaram, com Ron Wood tendo amigos íntimos brasileiros vindo constantemente à região de Angra dos Reis no Rio e Mick Jagger até se envolvendo e tendo um filho com a apresentadora de TV Luciana Jimenez.

Voltando à turnê de 2024, não há ainda datas ou locais, mas a notícia diz que as negociações “estão avançadas”. Também não há ainda informes oficiais sobre a próxima excursão da banda, mas é possível que girem pelos EUA no fim deste ano antes de virem à América do Sul no ano que vem.
Quanto à banda de abertura, os Titãs já abriram para os Stones no histórico show gratuito na Praia de Copacabana em 2006, que reuniu o recorde de 1,5 milhão de pessoas. Não é claro, ainda, qual versão da banda encarará esta missão, se a formação clássica da atual turnê de reencontro – com os sete membros vivos da banda (incluindo Nando Reis, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Charles Gavin, que já saíram do grupo) – ou se a formação oficial atual, apenas o trio remanescente Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto.
Ademais, não custa adicionar que o single Angry, que remete à sonoridade clássica da banda, como na fórmula de Honky tonky women ou Start me up, menciona o Brasil na letra. Próximo ao final da canção, podemos ouvir Sir Mick Jagger cantando “I’m still taking the pills and I’m off to Brazil”, o que pode ser traduzido como “Ainda estou tomando os meus remédios e estou de partida para o Brasil”, o que no contexto da canção, na qual o eu lírico interpela seu amor que está chateada ou raivosa, sugere que ele vem ao nosso país esfriar a cabeça.
Sobre Hackney Diamonds, é o 24º álbum da banda, o primeiro desde Blue & Lonesome, de 2016, mas como este era um disco de covers de blues, é o primeiro com material original desde A Bigger Bang, de 2005.

Ainda assim, é preciso lembrar que os Stones lançaram alguns singles inéditos desde então, como Gloom and doom, dentro da coletânea Grrrrrlll, de 2012 (que celebrou os 50 anos de carreira do grupo), faixa que terminou na trilha sonora de Vingadores – Ultimato (2019), e Living in a ghost town, compacto de 2020 lançado durante e sobre a pandemia de Covid-19, que era parte do início das sessões de gravação do álbum atual, que foram interrompidas pela necessidade de isolamento social. Este single marcou também o último lançamento com o baterista Charlie Watts, que morreu em 2021 às vésperas da turnê de retomada do grupo pós-pandemia. Seu lugar nos shows e gravações foi ocupado pelo aclamado Steve Jordan, que tocara nos discos solo de Keith Richards. É Jordan quem está em Angry, mas Watts ainda aparece em duas faixas do novo álbum.
É comum os Stones terem participações especiais de artistas consagrados em seus concertos, mas muito menos em gravações. Todavia, em vista do caráter especial de Hackney Diamonds, o disco é repleto de convidados: Lady Gaga canta em Sweet sound of heaven; o ex-membro da banda, o baixista Bill Wyman (que saiu em 1993) aparentemente toca em duas faixas, uma delas com Watts; Elton John e Stevie Wonder também aparecem tocando teclados; e o ex-membro dos Beatles, Paul McCartney, toca em uma faixa também, embora não tenham sido reveladas em quais. Existiam rumores (não confirmados) de que Ringo Starr, também dos Beatles, tocaria no disco.

Segundo o release divulgado à imprensa, o track list de Hackney Diamonds é o seguinte:
- Angry
- Get close
- Depending on you
- Bite my head off (com Paul McCartney no baixo)
- Whole wide world
- Dreamy skies
- Mess it up (com Charlie Watts na bateria)
- Live by the sword (com Charlie Watts na bateria, Bill Wyman no baixo e Elton John no piano)
- Driving me too hard
- Tell me straight (com vocais de Keith Richards)
- Sweet sound of heaven (com Lady Gaga nos vocais e Stevie Wonder nos teclados)
- Rolling Stone Blues
É curiosa a presença da faixa Rolling stone blues como última canção do disco, pois foi é faixa do bluesman Muddy Waters que batizou a banda.
Não está claro se a banda usa outros músicos acompanhantes. Além de Steve Jordan, a banda usa em turnê o baixista Darryl Jones, mas sua presença não está confirmada no disco. Em A Bigger Bang, tanto Jagger quanto Wood tocaram baixo em algumas faixas, e as participações de Wyman e McCartney diminuem as possibilidades da aparição do músico. O mesmo vale para o tecladista e pianista Chuck Lavell. Há um piano discreto em Angry, mas não sabemos se é dele.

[Atualização: Depois de publicado este post, saiu uma longa reportagem do The New York Times, assinada por Jon Pareles, sobre o álbum com algumas informações a mais… Os Stones vinham fazendo algumas sessões de gravação, mas como não havia um prazo definido, o grupo apenas esboçava canções e não terminava nada, até que no segundo semestre de 2022, Mick Jagger decidiu que iria cumprir esse papel e colocou um deadline para Keith Richards: o Valentine Day de 2023, ou seja, 14 de fevereiro deste ano. Era um prazo curto. O grupo convidou o produtor Andrew Watt, de 32 anos, que trabalhou com nomes pop, como Miley Cyrus, Justin Bieber, mas também alguns roqueiros clássicos, como Ozzy Osbourne, Iggy Pop e Paul McCartney, além de de ser um grande fã dos Stones. Aliás, foi McCartney quem indicou o produtor a Wood (como o HQRock divulgou). Watt assumiu o papel de conduzir o grupo num cronograma apertado de sessões e composição. Do repertório, por exemplo, Driving me too hard foi escrita por Jagger e Richards juntos em uma pequena sala, como nos velhos tempos.
O NYT teve acesso ao álbum e algumas faixas são comentadas. A participação de Paul McCartney se dá em Bite my head off, que tem uma pegada punk e o ex-Beatles toca um baixo distorcido. Depending on you tem uma pegada country; e Whole wide world traz uma guitarra vintage Plexigas Dan Armstrong, como aquela usada por Richards em Midnight rambler, de 1969. As sessões com Charlie Watts (ainda sob a regência do produtor Don Was, que trabalhou em Voodo Lounge, Bridges to Babylon e A Bigger Bang) renderam Mess it up e Live by the sword, com a última trazendo não apenas Bill Wyman no baixo, mas também Elton John em um piano honky tonky.

Tell me straight, a faixa cantada por Richards, é uma balada sentida, com uma letra sobre despedida e morte (com versos como “Eu preciso de uma resposta/ Por quanto tempo isto irá durar?/ Não me faça esperar/ O meu futuro está todo no meu passado?”) e Sweet sound of heaven é uma canção de pegada gospel, que traz um dueto entre Jagger e Lady Gaga, cada qual forçando o outro aos seus limites, diz a revista, e ainda conta com a participação de Stevie Wonder nos teclados. E Rolling stone blues traz apenas Jagger (voz e gaita) e Richards (guitarra) tocando e cantando em dueto a faixa que batizou a banda em um registro íntimo, ao vivo no estúdio.
O significado do título do álbum é comentado pelos artistas, pois “hackney”, além do nome de um subúrbio ao oeste de Londres, é uma gíria londrina para algo vulgar ou ordinário, mas segundo Jagger e Wood, Hackney Diamonds significa vidro feito em pedaços, estilhaçado. Daí, a capa ser um diamante em formato de coração sendo partido por um punhal. Wood diz que o título reflete a força das canções, que explodem no disco. O produtor Watt diz que procurou dar força às faixas e ressaltar a potência da banda.
O ritmo alucinado das gravações deu um “senso de urgência” à banda, embora tenha se provado difícil: Richards chegou a dizer que “ainda está se recuperando”, mas Jagger ao mesmo tempo, insiste que Hackney Diamond não é o último álbum da banda e que, na verdade, eles já estão 3/4 avançados na produção do próximo disco!
Com isso se quer afastar a possibilidade de Hackney Diamonds ser o último disco dos Stones, algo que é sugerido pelo tema das três últimas faixas, com a gravação de Muddy Waters servindo quase como um epílogo, mas Jagger em sua entrevista procura dizer que acha que o álbum dá início a uma nova fase do grupo, com Jordan como baterista, e que eles querem consolidar essa nova fase e o “novo” estilo com o disco seguinte. Fim da Atualização].

Os Rolling Stones se formaram em Londres em 1962 e se consolidaram com Mick Jagger (vocais), Keith Richards (guitarra), Brian Jones (guitarra), Bill Wyman (baixo) e Charlie Watts (bateria). Jones morreu em 1969 e foi substituído por Mick Taylor, que por sua vez, foi substituído por Ron Wood em 1975 e permanece na banda até hoje. Wyman deixou o grupo em 1993 e não foi substituído, enquanto Watts faleceu em 2021, o que deixa os Stones reduzido ao trio Jagger, Richards e Wood.

