Em maio de 2022, a banda britânica The Rolling Stones completou 60 anos de atividades, mantendo-se como uma das mais importantes bandas de rock de toda a história. E desde então, vêm demonstrando vontade de continuar: lançando novas turnês e até novos álbuns! Sendo “a maior banda de rock’n’roll do planeta”, claro, o HQRock tem que apresentar a Discografia Completa dos Stones, disco a disco, comentada. [Este post foi publicado originalmente em 2012 e desde então foi atualizado].
Como há muita variação entre diferentes discografias, optamos por usar a oficial britânica. Nos EUA, alguns discos foram lançados diferentemente, especialmente no início da carreira, e ambas as versões foram lançadas em CDs mais tarde (e estão disponíveis no streaming, também). Mas faremos as devidas indicações de onde as versões americanas se encaixam na discografia geral.
A discografia de uma banda, claro, está intrinsicamente ligada à sua biografia, mas já temos um post especial dedicado à carreira geral da banda…
(A carreira dos Stones pode ser apreciada em detalhes neste post biográfico celebrando os 50 anos de idade do grupo).

Mas em vista do contexto, reapresentamos as linhas gerais dessa história: nascidos em 1943 e 1944, respectivamente, Mick Jagger e Keith Richards cresceram como vizinhos na industrial cidade de Dartford, no sudeste de Londres, à beira do rio Tâmisa. Suas mães eram amigas e eles foram amigos de infância até a família Jagger se mudar para um bairro melhor, embora nunca tenham perdido o contato totalmente. Então, no verão de 1960, a dupla se reencontrou na estação de trem, com Jagger levando na mão discos de Chuck Berry e Muddy Waters, que Richards também amava, e os dois se reconectaram como amigos e começaram a desenvolver suas afinidades musicais, com o primeiro focado no canto e o segundo na guitarra.

Logo, se uniu a eles um amigo chamado Dick Taylor para tocar baixo e formar uma banda que nunca foi para a frente de verdade, e era mais uma ideia do que uma realidade. Então, conheceram a banda The Blues Incorporated, que a partir de 1961 começou a abalar a cena dos clubes londrinos tocando blues elétrico e R&B, formando um celeiro de astros. Nascido em 1942, Brian Jones tocava slide guitar naquele grupo: mais velho e experiente, já tendo tocado em outra banda, Jones foi quem fez a conexão de Jagger e Richards com o Incorporated, o que levou Jagger a se apresentar cantando algumas canções no show do grupo.
Mas eles queriam fazer o som deles. Então, Jones teve a ideia de formarem uma banda paralela ao Incorporated, reunindo ele e Richards na guitarra, Jagger nos vocais, o pianista Ian Stewart e baixistas e bateristas circulantes, não por opção, mas por falta de afinidade. Até que chegou Bill Wyman com seu baixo e amplificador (motivo este que o colocou na banda) e, após a estreia em shows, o baterista Charles Watts, que também já tinha tocado no Incorporated. O nome The Rolling Stones foi dado por Jones, quando agendou o primeiro show do grupo Marquee Club em 12 de julho de 1962, e era obrigatório preencher o nome da banda, que até então, não tinha definido sua nomenclatura. Jones olhou em volta e viu o compacto com Rollin’ stone blues de Muddy Waters e pronto!
Entre narrativas de amor “clandestino”, a canção apresenta o narrador como um “rolling stone”, o que (isso não está na canção) parte de um provérbio popular que diz “rolling stone get no muss”, o que quer dizer, “pedras rolantes não criam musgo”. A expressão era usada para se referir aos andarilhos que andavam sem rumo pelo interior dos EUA, muitos dos quais ganhavam trocados tocando nos bares de madeira chamados honk tonks. Dessa forma, rolling stone é alguém sem rumo, sem destino certo, que está sempre em movimento.

Com Mick Jagger nos vocais, Keith Richards e Brian Jones nas guitarras, Bill Wyman no baixo, Ian Stewart no piano e Charlie Watts na bateria, o grupo chamou alguma atenção na cena R&B de Londres e ganharam residência fixa no Crawdaddy Club, onde chamaram à atenção do jovem Andrew Loog Oldham (nascido em 1944, portanto, a mesma idade de Richards), que trabalhava na equipe de Brian Epstein, empresário dos Beatles. Ao ver os Stones, Oldham pensou que poderia repetir a história do patrão e ter seu próprio grupo. E o fez. Atrás da Decca Records, a segunda maior gravadora do Reino Unido, atrás apenas da EMI (casa dos Beatles), conseguiu que os rapazes de Liverpool lembrassem ao dono da companhia que recusaram os fab four antes da fama e perderam milhões de libras. Os Stones conseguiram seu contrato.

Mas nesse ínterim, Oldham terminou convencendo a banda a tirar de sua formação oficial o pianista Ian Stewart, por não outro motivo o fato dele ser feio e com o adicional de ser um pouco mais velho do que os demais membros. Com baixa autoestima, Stewart terminou aceitando o arranjo, se transformando no principal roadie da banda, com o adicional de tocar de vez em quando, quando a ocasião pedia. Para fins práticos, Stewart deixou de acompanhar os shows depois que a banda largou os clubes pelos teatros, mas de fato, continuou a tocar pontualmente em gravações de estúdio.
O resto é história…. Bom, apresentaremos o resto a partir da ótica da Discografia Completa dos Rolling Stones.
Discografia Completa
Para apresentarmos a discografia, iremos incluir também (na parte inicial) os singles, porque eram lançados à parte e, muitas vezes, não faziam parte dos álbuns vindouros (especialmente na discografia britânica), ao contrário do que é mais comum hoje em dia. Isso é importante, porque faixas seminais como (I can’t get no) Satisfaction, Jumpin’ Jack flash ou Honky tonky women não fazem parte de nenhum álbum da discografia oficial britânica, porque foram lançadas apenas em compactos.
Então, tudo começa no verão de 1963, quando chega às lojas o primeiro compacto dos Stones…

- Come on/ I want to be loved – junho de 1963
A estreia dos Rolling Stones em disco se deu com esse single, que nem de longe era uma boa representação do que a banda era ao vivo ou pensava de si mesma. A formação original se define com Mick Jagger nos vocais, gaita e pandeiros, Keith Richards na guitarra principal, Brian Jones na segunda guitarra, mas brilhando também no slide guitar e na gaita, Bill Wyman no baixo e Charlie Watts na bateria. Influenciados pelo empresário e “produtor” Andrew Loog Oldham (que assumiu a função de comandar as gravações mesmo sem nunca ter estado em um estúdio antes) e pela gravadora Decca, a banda investiu nesse cover de Chuck Berry como sua carta de apresentação, numa das escolhas mais equivocadas da carreira de Jagger, Richards e companhia. A interpretação frágil da banda e os vocais em falsete de Jagger só depõem contra os Stones. Eles aprenderam com esse erro, que poderia ter lhes custado a carreira inteira. Ainda assim, o disquinho chegou ao 21º lugar das paradas britânicas, o que era bom para um grupo estreante, mas todos sentiam que poderiam ter ido mais longe com uma canção melhor.

- I wanna be your man/ Stoned, novembro de 1963
Os Stones chegaram a gravar Poison Ivy e Fortune teller para ser seu segundo compacto, mas achavam que aquela gravação ainda não era forte o suficiente e continuaram em busca de uma canção que lhes pusesse em evidência. Até que Andrew Loog Oldham estava caminhando no centro de Londres e foi chamado por duas vozes vindas de um táxi: John Lennon e Paul McCartney, dos Beatles! Oldham ingressou no showbusiness como parte da equipe do quarteto de Liverpool, trabalhando ao lado do empresário Brian Epstein e sentiu que podia fazer aquilo por si só quando encontrou os Stones. A proximidade com os fab four que já estouravam sucessos seguidos nas paradas fez com que os levasse a assistir aos shows dos Stones no Crawdaddy Club, em Richmond, onde chamaram à atenção e todos ficaram amigos.
Naquele dia, Oldham levou a dupla Lennon e McCartney para assistir os Stones gravando e em vista de que precisavam de uma canção forte para seu segundo compacto, os compositores dos Beatles dissertam que tinham uma faixa inacabada que tinha “a cara” da banda de Jagger, Richards e Jones. Então, foram até um canto do estúdio, finalizaram I wanna be your man e a mostraram ao grupo. Os Stones a gravaram e o lançamento foi um sucesso: chegou ao 12º lugar das paradas britânicas, pôs a banda em evidência na impressa e deu o empurrão que o grupo precisava.
Buscando diferenciar um pouco a canção de seus compositores, os Stones deram um toque maior de R&B à faixa e Brian Jones toca guitarra slide, no que provavelmente é uma das primeiras vezes que esse estilo foi registrado no Reino Unido, sendo um pioneirismo que ele desenvolvia desde os clubes.
- The Rolling Stones (EP), janeiro de 1964 (com Bye, bye Johnny, Money, You better move on e Poison ivy)
O sucesso de I wanna be you man fez a gravadora Decca pensar que os Stones tinham futuro e resolveu testar o mercado com com esse EP (compactos duplos, com 4 faixas) para ver se valia à pena investir em um álbum completo. Curiosamente, os Stones partilham aqui outra canção com os Beatles, pois Money (de Berry Gordy, da Motown) fora lançada pelo quarteto de Liverpool em seu álbum anterior With The Beatles, em novembro de 1963. De qualquer modo, a Decca viu que tinha um tesouro nas mãos: You better move on (do cantor de R&B americano Arthur Alexander) puxou o disquinho para o 1º lugar das paradas britânicas, sendo o primeiro número um do grupo.
- Not fade away/ Little by little, fevereiro de 1964
Já preparando o terreno do primeiro álbum, a Decca decidiu antecipar a promoção com este single, puxado por esta canção de Buddy Holly (roqueiro americano dos anos 1950, bastante popular na Inglaterra). A versão dos Stones adiciona agressividade ao swing do original, fazendo-a parecer mais um R&B (ficou muito similar ao estilo do bluesman Bo Diddley), que era a sonoridade típica do grupo, tendo a gaita (tocada por Brian Jones) como o principal instrumento de destaque, e o compacto chegou ao 3º lugar das paradas britânicas. Este single foi o primeiro a ser promovido nos EUA, em vista de que os Beatles estavam fazendo sucesso por lá, portanto, foi lançado (com o Lado B alterado para I wanna be your man) e chegou ao 48º lugar das paradas americanas da revista Billboard.
THE ROLLING STONES – 1964
O primeiro álbum da banda não tinha título e nem o nome da banda aparecia na capa, apenas uma foto à meia-luz seguindo o estilo estabelecido pelos Beatles e o fotógrafo Robert Freeman em With the Beatles, embora retratado em cores. Este disco foi “produzido” por Andrew Loog Oldham, o empresário do grupo que não tinha nenhuma experiência com máquinas de gravação, o que ajuda a explicar o som sujo e embaralhado da primeira fase dos Rolling Stones. Quem pegou no pesado mesmo em termos de gravação foi o engenheiro de som Eric Easton.
O disco exibe o que a banda fazia nos clubes na época, com canções de Chuck Berry (Carol) e alguns blues, especialmente Route 66 (de Bobby Troup) e I just wanna make love to you (de Willie Dixon). Como na época eram apenas intérpretes, a única canção autoral propriamente dita é Tell me, primeira balada assinada por Mick Jagger e Keith Richards, mas também há Little by little, parceria entre Jagger e o produtor e compositor Phil Spector, que participa do disco fazendo percussão, juntamente com seu “protegido” Gene Pitney.
Não custa lembrar: a experiência com Lennon e McCartney compondo um hit de sucesso praticamente na hora para os Stones gravarem convenceu Oldham de que o grupo só teria futuro se investisse também em suas próprias composições. E dentre os membros, parecia que Mick Jagger e Keith Richards eram os únicos habilitados para tal. Daí, diz a lenda, confirmada por Richards em seu livro, que o empresário trancou a dupla em um quarto e disse que só sairiam dali com uma canção composta. Eles começaram a escrever faixas de meio-tempo, sem a fúria que marcava seus covers de R&B, mas era um começo. A balada As tears go by foi uma das primeiras (e voltaremos a falar dela) e Tell me foi outra e a primeira a ser lançada.
De qualquer modo, o primeiro álbum cumpriu muito bem o seu papel e chegou ao 1º lugar das paradas britânicas, garantindo o sucesso consolidado dos Stones no Reino Unido. Mas àquela altura, em abril de 1964, os Beatles já estavam dominando as paradas mais importantes do mundo: a dos Estados Unidos! E, portanto, a Decca pôde investir sem medo no mercado ianque por meio de seu selo, o London. Oldham mediou o acordo com o empresário americano Allen Klein, que seria o representante da banda no país.
Nos EUA, a gravadora misturou os compactos prévios com faixas do disco que resultaram em um álbum diferente: The Rolling Stones: The Newest England’s Hits Makers, que chegou ao 11º lugar das paradas americanas da revista Billboard, o que era muito bom. Naquele país, Tell me também foi lançada como single (com I just wanna make love to you, no Lado B) e chegou ao 24º lugar das paradas.
- It’s all over now/ Good times, bad times, junho de 1964
De novo aproveitando o embalo do sucesso dos Stones nos EUA (que significava abrir as portas para o restante do mundo), a gravadora se apressou em lançar outro single, saindo It’s all over now, de autoria de Bobby Womack (música) e sua cunhada Shirley Womack (letra), composta diretamente no Bill Bulding (o distrito musical de Nova York que funcionava literalmente como uma fábrica de sucessos para o pop americano da época) e que tinha acabado de ser lançada pelos The Valentinos. A velocidade dos Stones não deu chance aos intérpretes originais e a canção foi um sucesso na versão de Jagger, Richards e companhia, chegando ao 1º lugar das paradas britânicas e ao 26º nos EUA.
- Five by Five (EP), agosto de 1964 (com If you need me, Empty heart, 2120 South Michigan Avenue, Confessin’ the blues, Around and around)
A Decca gostou do formato de EPs para antecipar álbuns, e já pensando no próximo disco completo capitaneou o lançamento deste compacto duplo com cinco faixas (daí seu título). Musicalmente, este EP tem o diferencial de registrar a passagem dos Rolling Stones pela gravadora Chess de Chicago, o templo do Blues e casa de Muddy Waters, Willie Dixon e Chuck Berry. Daí, a banda investir nesse universo, com If you need me (do cantor soul Wilson Pickett), Confessin’ the Blues (de Jay McShann e Walter Brown) e Around and around (de Chuck Berry), que se tornou um de seus principais números ao vivo naquela época. Mas também há dois números autorais registrados pelo pseudônimo de Nanked Phelge, em vez de Jagger e Richards, um recurso que a dupla usava quando escrevia faixas que eram mais paródias ou plágios de outras canções já existentes.
O disquinho chegou ao 1º lugar das paradas britânicas e o mercado mais safo dos Estados Unidos o expandiu, adicionando outras canções para formar um álbum novo, chamado 12 x 5 e lançado em outubro, o que fez com que os Rolling Stones tivessem um segundo álbum primeiro nos EUA do que no Reino Unido. Este álbum teve o disparate de antecipar a capa (em três meses!) que a Decca usaria no segundo álbum britânico da banda e chegou ao 3º lugar das paradas dos EUA.
- Time is on my side/ Congratulations, setembro de 1964
Como dá para notar, o mercado americano era mais movimentado e competitivo do que o britânico, portanto, a gravadora Decca começou a estimular o lançamento não apenas de álbuns distintos, mas também de singles específicos para os EUA, como foi o caso de Time is on my side (de Jerry Ragovoy), já gravada no ano anterior pelo trombonista de jazz Kai Winding and his Orchestra e também pela cantora soul Irma Thomas. O destaque da faixa são os vocais expressivos de Jagger, mas principalmente, a guitarra slide de Brian Jones.

- Little red rooster/ Off the hook, novembro de 1964
Para movimentar o mercado de Natal, a Decca lançou este single com uma composição de Willie Dixon já gravada por Howlin’ Wolf três anos antes. A versão dos Stones é bastante fiel ao original e a guitarra slide de Brian Jones é de novo o grande destaque. Outro ponto importante: como chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido, é até hoje a única canção desse estilo a ocupar tal posição na história! Como a música dos negros não era bem-vista pela sociedade branca dos EUA, este compacto não foi lançado por lá…
- Heart of stone/ What a shame, dezembro de 1964
Como os americanos não queriam promover o blues Little red rooster, então, lançaram como single de Natal esta balada de autoria de Mick Jagger e Keith Richards, a primeira canção autoral realmente de destaque do grupo, com seus vocais emocionados como grande destaque. Chegou ao 19º lugar das paradas dos EUA, mas não foi lançada como compacto no Reino Unido.
THE ROLLING STONES No. 02 – 1965
O segundo álbum (britânico) é ligeiramente melhor do que o primeiro, especialmente em termos de som, pois foi parcialmente gravado no Chess Studios de Chicago – o lugar onde Muddy Waters, John Lee Hooker e Chuck Berry faziam suas gravações e o compositor Willie Dixon trabalhava como baixista – com Ron Malo fazendo a engenharia de som e Andrew Loog Oldham na “produção”.
No repertório, há mais duas composições de Jagger & Richards, mas o destaque ainda são os covers de Time is on my side (que já tinha sido lançada nos EUA meses antes), Everybody needs somebody to love (de Solomon Burke), I can’t be satisfied (Muddy Waters), You can’t catch me (Chuck Berry) e Suzie Q (de Dale Hawkings).
Nos EUA, suas faixas foram distribuídas entre 12×5 (o segundo álbum americano, que foi lançado em 1964 com a mesma capa) e The Rolling Stones, Now (o terceiro álbum americano, que é a “versão” de N. 2).
Um detalhe importante é que, a partir deste álbum, os Stones passam a ter a colaboração constante de Jack Nitzsche no piano e teclados, músico (e futuro produtor) norte-americano que trabalhavam como braço-direito de Phil Spector. Gradativamente, mas decisivamente, Nitzsche começa a ocupar o lugar que fora de Ian Stewart.

- The last time/Play with fire, fevereiro de 1965
Normalmente, as gravadoras lançam os singles em antecipação aos novos álbuns, mas aqui foi o inverso. Talvez porque Little red rooster já preencheu o mercado natalino e The Rolling Stones N. 2 chegou em janeiro de 1965. Mas o fato é que The last time foi o primeiro grande sucesso dos Stones escrito por Jagger & Richards. A canção tem um grande riff de guitarra (tocado por Brian Jones!), um bom solo de guitarra meio distorcida (este feito por Richards), uma melodia principal muito interessante (que cai confortavelmente na voz de Jagger) e um refrão chiclete cativante, o que a tornou o primeiro clássico verdadeiro da banda. É notória a qualidade superior também da gravação, que contou com o auxílio do produtor norteamericano Phil Spector, criador da Wall of Sound, uma técnica que dava mais potência sonora aos registros musicais. Embora em vista dos sucessos posteriores do grupo, terminou esquecida do repertório do grupo nos shows pós-1967 até ser resgatada trinta anos depois, é um clássico duradouro entre os fãs.
Não é surpresa, portanto, que tenha chegado ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e ao 9º lugar nos EUA.
O Lado B foi a balada Play with fire, que é muito similar em estilo a Heart of stone: baseada em uma melodia curta e levada na voz, guitarra e percussão, embora com um distinto harpchord (cravo) tocado por Jack Nitzsche. Dessa vez, porém, a letra é mais interessante, sobre a pobre menina rica que deixa a vida de luxo em busca do amor, antecipando as garotas hippies que largaram as casas de seus pais para seguir a rota do amor livre, expressa depois em Like a rollin’ stone de Bob Dylan e She’s leaving home dos Beatles. Naquele tempo, os EUA ranqueavam os lados Bs de modo independente, por isso, Play with fire chegou ao 96º lugar das paradas.
- Got Live If You Want It (EP), junho de 1965 (com Everybody needs somebody to love, Pain in my heart, Route 66, I’m move on, I’m alright)
Um dos maiores caça-níqueis da Decca, este foi o último EP original dos Stones, trazendo pretensamente gravações ao vivo da banda. Pretensamente, porque é possível que sejam apenas gravações de estúdio com palmas e público adicionados depois. De qualquer modo, não há destaques e a qualidade do som é muito ruim. Mesmo assim, chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido.

- (I can’t get no) Satisfaction/ The spider and the fly, junho e agosto de 1965
A canção mais famosa dos Rolling Stones, Satisfaction foi escrita por Jagger & Richards e lançada para embalar o verão, se tornando um enorme sucesso e a primeira vez que um single dos Stones ficou em 1º lugar das paradas do Reino Unido e dos EUA. Além de sua letra (escrita por Jagger) imbuída de rebelião juvenil que rompe com os padrões dos adultos ao mesmo tempo em que reclama que não consegue ter satisfação (sexual), ficou imortalizado para sempre o riff de guitarra icônico de Keith Richards, tocado com a distorção de um dos primeiros pedais de Fuzz lançados no mercado (o que chamamos hoje de overdrive).
Curiosamente, o single foi lançado nos EUA dois meses antes do que no Reino Unido, aproveitando que a banda estava por lá fazendo turnê. Talvez o fato da Decca ter lançado o EP Got Live If You Want It tenha motivado o atraso na terra-natal, mas isso pelo menos não atrapalhou o sucesso. Nos EUA, o lado B foi The under assistant West Coast promotion man, enquanto no Reino Unido foi The spider and the fly.
OUT OF OUR HEADS – 1965
O terceiro álbum britânico dos Stones veio no embalo do sucesso de seus singles (autorais) recentes. Talvez por isso, embora a maior parte do repertório ainda seja de covers, como She said yeah! (Sonny Bono, Rody Jackson), Hitch Hike (de Marvin Gaye) e Talkin’ about you (Chuck Berry), pela primeira vez, os reais destaques são mesmo os autorais de Jagger & Richards, com Heart of Stone (já lançada nos EUA em single no ano anterior) e a nova I’m free. Este álbum representa a primeira virada na carreira da banda, quando firmam uma sonoridade própria a passam a se escoltar de suas próprias canções. O álbum ficou em 2º lugar das paradas do Reino Unido.
E para expressar a confusão da discografia dos Stones nessa época, apesar do álbum britânico chegas às lojas em setembro de 1965, a versão americana de Out of Our Heads já tinha sido lançada em julho (dois meses antes!). Para piorar, a versão dos EUA traz outra capa (da mesma sessão de fotos de 12 x 5) e uma track list totalmente distinta, ao ponto dos discos sequer parecerem um com o outro: embora preservem Mercy mercy e Hitch hike, incluem os singles The last time, Play with fire e Satisfaction. Chegou ao 1º lugar das paradas dos EUA.
E se você acha essa confusão pouco, a capa britânica de Out of Our Heads foi usada em outro álbum americano (o quinto!), chamado December’s Children (And Everybody), lançado em dezembro de 1965, misturando algumas faixas de Out of Our Heads (She said yeah!, I’m talking about you), canções antigas (You better move on) e os novos singles Get off of my cloud e As tears go by. E chegou ao 4º lugar das paradas.
- Get off of my cloud/ the singer not the song, setembro de 1965
Com o sucesso à todo o vapor, os Stones lançaram esse novo single, que mistura elementos da sonoridade de The last time e Satisfaction, produzindo sua faixa mais pesada até então. De novo, foi o 1º lugar das paradas do Reino Unido e dos EUA.
- As tears go by/ Gotta get away, dezembro de 1965.
O insaciável mercado americano ainda lançou este outro single para as vendas de Natal. Já mencionamos que As tears go by foi uma das primeiras composições de Jagger & Richards, mas como era uma balada melosa, decidiram não gravá-la. Contudo, aproveitando que a canção fez sucesso na voz de Marianne Faithfull (cantora que foi descoberta por Andrew Loog Oldham e terminou namorando Brian Jones primeiro e Mick Jagger depois), e também o fato dos Beatles terem feito um enorme sucesso com Yesterday e seu quarteto de cordas, os Stones terminaram por fazer sua versão (também com cordas). O single foi lançado apenas nos EUA, e chegou ao 6º lugar das paradas.
- 19th Nervous breakdown/ Sad day, fevereiro de 1966.
Já preparando terreno para o próximo álbum britânico, veio 19th nervous breakdown, canção pesada, novamente usando o pedal Fuzz e na mesma linha de Get off of my cloud. Apesar de lançadas praticamente ao mesmo tempo, as versões do single no Reino Unido e EUA foram diferentes. Nos EUA usaram a nova Sad day no Lado B, mas no Reino Unido colocaram As tears go by, aproveitando que esta não fora lançada lá como single. Ambos os compactos chegaram ao 2º lugar das paradas do Reino Unido e dos EUA.
AFTERMATH – 1966
A banda nem chegou a completar o seu primeiro círculo e já fizeram outro: aqui, aderem ao Movimento Psicodélico e começam a brincar com referências sonoras clássicas, sons barrocos e efeitos sonoros. Com isso, Aftermath é o primeiro álbum inteiramente autoral dos Stones, com todas suas 14 faixas assinadas por Jagger e Richards. A partir daqui, os Stones se assumem como uma banda 100% autoral, deixando o passado de banda cover para trás.
Essa mudança teve um impacto em Brian Jones: o guitarrista e antigo líder não exatamente um superfã do material de seus colegas e, ao mesmo tempo, não sabia como se colocar dentro daquelas canções novas, acostumado que estava em mimetizar os velhos ídolos. Sentindo-se deslocado, Jones termina se voltando para experimentações sonoras, contribuindo de maneira decisiva para a nova sonoridade da banda: no disco, o multi-instrumentista toca cítara, saltério, harpchords (cravos), sinos, marimba, além de piano, órgão, gaita. Fruto de sua frustração, o recurso terminou por enriquecer muito a textura da sonoridade da banda nessa fase que se iniciava e encheu as canções de coloridos psicodélicos.
E deu certo é o primeiro dos álbuns a entrar na lista dos “melhores discos” da longa carreira do grupo. O repertório é de clássicos: Mother’s little helper, Lady Jane, Under my thumb, Out of time, I am waiting e Take it or leave it. Destaques a Under my thumb no qual o rock de meio tempo é embalado pela marimba de Jones, que soa como se fosse um piano; e a belíssima Lady Jane, na qual a combinação do harpchord tocado por Jack Nitzsche com o dulcimer apalache de Jones formam uma sonoridade exótica, folclórica que remete aos tempos medievais, o que ajudou alguns críticos chamarem essa sonoridade de rock barroco.
O álbum foi lançado primeiro no Reino Unido, em abril de 1966, mas a versão dos EUA só chegou às lojas no final de junho, o que era incomum. A versão dos EUA tem outra capa (com uma imagem distorcida da banda) e o track list é ligeiramente diferente, incluindo o single Paint it black que fora lançado entre as duas versões. Mas ainda assim, é a primeira vez que um álbum americano dos Stones é bastante parecido com o original britânico, dando início ao fim da separação das duas discografias. De qualquer modo, Aftermath chegou ao 1º lugar das paradas britânicas e ao 2º lugar das paradas dos EUA.

- Paint it black/ Long, long while, maio de 1966.
Para reforçar a promoção de Aftermath, foi lançado este single poderosíssimo da banda, com destaque aos disfarçados elementos de magia negra (pintar o rosto de preto) e o uso da cítara indiana (por Brian Jones) como se fosse uma guitarra fazendo um riff ao longo da faixa. Um grande clássico que chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e dos EUA.
- Mother’s little helper/ Lady Jane, julho de 1966.
O oportunista mercado americano ainda extraiu outro single de Aftermath, lançado na mesma época da versão do álbum dos EUA. O disquinho chegou ao 8º lugar das paradas da Billboard e o Lado B, Lady Jane, também entrou nas paradas e chegou ao 24º lugar.
- Have seen your mother, baby, standing in the shadows?/ Who’s driving your plane?, setembro de 1966.
Mas o mercado ainda era principalmente puxado pelos singles, então, pouco tempo depois, os Stones lançaram essa nova faixa, uma extravagância psicodélica que não chamou tanta atenção e ocupa um papel menor na obra da banda, ainda que tenha o mérito de combinar o lado mais roqueiro do grupo com as novas sonoridades psicodélicas expressas no arranjo de cordas de Michael Lander. Chegou ao 5º e ao 9º lugares das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente.

GOT LIVE IF YOU WANT IT – 1966 (ao vivo)
O insaciável mercado americano ainda não achava suficiente toda a enxurrada de lançamentos daquele ano e, para movimentar as vendas de Natal, ainda lançou esse álbum ao vivo, usando o mesmo título do EP britânico do ano anterior, mas com um conjunto totalmente diferente de faixas. Embora creditado como gravado ao vivo no Royal Albert Hall em Londres, na verdade, o disco oportunista de Andrew Loog Oldham e Allen Klein usou gravações de diversos shows espalhados pelo Reino Unido na turnê de setembro e outubro de 1966 mais dois números gravados em estúdio (com plateia adicionada) em 1963 e 65. A qualidade de som é péssima, Jagger canta desafinado, a banda toca fora de tom, a plateia grita o tempo todo… nada disso contribuiu para Got Live If You Want It ser um registro memorável, exceto a curiosidade de ouvir os Stones tocando de modo mais rápido a maior parte das faixas.
No repertório, a maioria dos singles vencedores dos dois anos passados, incluindo Satisfaction, Lady Jane e até Have you seen your mother baby, standing in the shadows! A banda não autorizou o lançamento e o renegou publicamente, mas ainda assim, o álbum, só lançado no mercado americano, chegou ao 6º lugar das paradas da Billboard. Uma tiragem limitada foi distribuída na Europa pela Decca, mas apenas para colecinadores.

- Let’s spend the night together/ Ruby tuesday, janeiro de 1967.
Dessa vez, o single promocional do novo álbum chegou ao mesmo que o disco completo, mas agora, com duas grandes e fortes canções. Ambas eram tão boas que, no Reino Unido, o compacto foi promovido como um Duplo Lado A, ou seja, as duas faixas eram a “principal”. Com sua levada animada e festeira, com o convite a dormir junto, Let’s spend the night together embalou vários shows dos Stones na época e tem destaque no piano de Jack Nitzsche, com Brian Jones tocando o órgão.
Já Ruby tuesday é uma balada belíssima, guardando a mesma impressão barroca de Lady Jane, agora, estruturada em uma composição majoritariamente de Richards, na qual ele toca o baixo acústico com arco (como um violoncelo) e violão, rendendo uma interpretação emocionante de Jagger nos vocais, emoldurados pelo piano de Jack Nitzsche e a contribuição seminal de Brian Jones, que toca um piano adicional nos refrões, mas principalmente, uma flauta doce (alto recorder) sensacional na faixa. Simplesmente maravilhosa.
Por causa disso, nos EUA foi Ruby tuesday quem chegou às paradas, ficando em 1º lugar da Billboard, ao passo que no Reino Unido, quem contou para os registros (porque seu nome aparece primeiro na capa) do Duplo A foi Let’s spend… que ficou em 3º lugar das paradas.
BETWEEN THE BUTTONS – 1967
Depois do esplêndido álbum anterior, a banda tropeça neste disco, que simplesmente não tem canções boas o suficiente. As experimentações psicodélicas continuam, e Brian Jones toca cítara, saxofone, flauta, mellotron e qualquer coisa que coloquem na frente dele, mas as composições de Jagger e Richards simplesmente não chegam ao mesmo nível, embora haja destaques como Backstreet girl e Yesterday’s papers.
Os EUA, como sempre, lançaram uma versão diferente do álbum, tirando algumas faixas e incluindo o single com Ruby Tuesday e Let’s spend the night together, o que, no fim das contas, o deixou melhor. O álbum ficou em 3º lugar das paradas do Reino Unido e 5º nos EUA.
- We love you/ Dandelion, agosto de 1967.
1967 foi o annus horribilis dos Rolling Stones: logo após o lançamento dos sucessos de Let’s spend the night together, Ruby tuesday e Bettween the Bottons, a polícia britânica deu uma batida na casa de campo de Keith Richards e prendeu ele e Mick Jagger, acusando-os de porte de drogas. Após passarem alguns dias trancafiados em presídios separados (a pena de Richards era mais dura, pois ele também permitiu o consumo de drogas em sua casa), a dupla saiu sob fiança, mas foi submetida a um longo processo judicial, correndo o risco de receberem penas de até 10 anos de reclusão! Era uma reação do establishment à cultura de drogas escancarada com a onda psicodélica. No meio do caso, Brian Jones também foi pegue pela polícia e encarrou um processo paralelo. No fim, o processo de Jagger-Richards foi anulado (por irregularidades na ação policial), mas não o de Jones.
Como resultado, os Stones até fizeram alguns shows e uma pequena turnê europeia entre março e abril de 1967, mas logo foram impedidos de viajar (especialmente para os EUA) e se focaram em gravar um álbum que expressasse aquele momento e o Verão do Amor. O primeiro resultado a sair disso foi este single, explicitamente direcionado aos fãs em agradecimento ao apoio em todo esse processo.
We love you não é grande coisa: tem um ótimo trabalho de piano de Nick Hopkins (músico britânico que tocava com o The Who e outras bandas, que se tornará a partir daqui o principal siderman dos Stones, ocupando o lugar que fora de Ian Stewart e Jack Nitzsche), alguma agressividade, um som embaralhado e a participação especial de John Lennon e Paul McCartney nos backing vocals. Talvez pelo contexto turbulento, a canção chegou “apenas” ao 8º lugar das paradas britânicas. Nos EUA, a canção foi considerada estranha demais e o Lado A foi convertido para a mais tradicional Dandelion, que chegou apenas 14º lugar, ao passo que We love you atingiu somente o 50º lugar.
THEIR SATANIC MAJESTIES REQUEST – 1967
Última peça psicodélica dos Stones, este álbum é praticamente renegado pela banda, pois escorregou feio numa tentativa frustrada de seguir os passos de Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band dos Beatles, lançado mais cedo no mesmo ano, bem como de uma série de álbuns psicodélicos, como Are You Experienced? do The Jimi Hendrix Experience ou The Piper at the Gates of Dawn do Pink Floyd. O álbum dos Stones, contudo, é uma pálida caricatura daquilo tudo, cristalizando uma crise criativa que se desenvolvia desde o ano anterior e, simplesmente, a ausência de boas canções.
Um parênteses importante é que essa gravação marcou o momento de ruptura entre a banda e o empresário e “produtor” Andrew Loog Oldham, que se afastou do grupo em meio ao processo judicial das drogas (talvez, tentando salvar o próprio pescoço), o que abriu espaço para que o americano Allen Klein e sua empresa ABKCO assumissem o controle do lado comercial do grupo (algo que teria um preço alto no futuro). Klein não interferia nas gravações, portanto, Jagger e Richards assinam a produção pela primeira vez.
Novamente, Brian Jones se desdobra em inúmeros instrumentos: flautas, saxofones, órgãos, cítaras etc. No entanto, as composições não estão inspiradas com destaques apenas para She’s a rainbow (se sobressaindo o mellotron com sons de sopros de Jones, o piano de Nick Hopkins e o arranjo de cordas criado por John Paul Jones, futuro membro do Led Zeppelin) e 2000 years light from home. Uma curiosidade bizarra é a presença de In another land, primeira canção escrita (e a única cantada) pelo baixista Bill Wyman.
O álbum cumpriu a façanha de ser o primeiro a ser lançado exatamente igual no Reino Unido e nos EUA, encerrando definitivamente a separação dos mercados que fora uma marca até ali. Era uma tendência geral e o mesmo ocorreu com outros artistas, mais uma demonstração de que os álbuns começavam a se tornar o produto principal do mercado, pelo menos do ponto de vista artístico (afinal, os singles continuaram vendendo mais pelo menos por outra década à frente). De qualquer modo, chegou ao 3º e ao 2º lugar das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente, mas rapidamente declinou nas vendas, sendo mal recebido por público e crítica. A banda fez seu papel, também: quando retomou seus concertos, quase dois anos depois, jamais tocou nenhuma de suas faixas ao vivo até a virada do século XXI, quando quebrou o jejum com os destaques.
- In another land/ The lantern, dezembro de 1967.
Talvez fosse só um teste de mercado ou a busca de uma saída comercial, mas os EUA tiveram o disparate de lançar a faixa de Bill Wyman como um single em seu país, inclusive, creditado como “by Bill Wyman with B Side The Lantern by The Rolling Stones”. Chegou ao 87º lugar das paradas.
- She’s a rainbow/ 2000 light years from home, dezembro de 1967.
Como de costume, o mercado americano extraiu mais um single do álbum da banda, destacando logo as duas melhores faixas. Mas a imagem desgastada dos Stones não contribuiu e chegou apenas ao 25º lugar da Billboard.

- Jumpin’ Jack flash/ Child of the moon, maio de 1968.
Iniciado um novo ano, os Stones decidiram dar a volta por cima, o que incluía se livrar daquele pacote psicodélico no qual afundaram nos dois últimos álbuns, que terminaram sendo dois dos piores de sua carreira. Eles investiram numa “volta ao básico” e dessas sessões destacaram a incrível Jumpin’ Jack flash para lançá-la como single de antecipação do trabalho. Embora tenha um riff de guitarra muito similar a Satisfaction, Jumpin’ Jack flash tem existência própria e é uma das melhores e mais famosas canções do longo repertório do grupo, presença obrigatória no set list de seus shows e turnês dali em diante.
Para isso, o grupo se reúne de volta ao velho estilo, inclusive, com Brian Jones na guitarra, fazendo alguns contrapontos ao riff de Keith Richards, que por sinal, os gravou em um violão com um gravador portátil e uma caixa de som para chegar a uma distorção natural, num ótimo efeito. Richards também toca o baixo, enquanto Bill Wyman toca o órgão que ganha mais destaque no fim. A letra de Jagger fala metaforicamente de deixar a má fase para trás e seus vocais são excelentes, cantando com gosto por saber que é uma boa canção.
Um clássico imortal que chegou ao 1º e ao 3º lugar das paradas do Reino Unido e dos EUA, respectivamente. E este single demonstra o início de uma época em que o número de canções fora dos álbuns começava a rarear em vista da maior importância dos álbuns como obra completa.
BEGGARS BANQUETT – 1968
Após a antecipação do single anterior, Beggars Banquett consolida a mudança na carreira da banda, a mais importante dentre todas: os Stones abandonam o clima psicodélico e se voltam às suas raízes, produzindo um disco de forte influência de folk blues. É neste álbum que começa a se desenvolver a sonoridade pela qual os Stones são reconhecidos hoje. E foi uma decisão acertadíssima: as composições de Jagger e Richards estão excelentes; Richards começa a desenvolver uma afinação pessoal para a guitarra (em ré aberto) e faz um ótimo trabalho; Nick Hopkins brilha no piano; e Brian Jones começa a sua despedida.
Afogado em drogas, o guitarrista aparece apático na maior parte do tempo, embora agora volte a tocar guitarra depois de dois anos de sonoridades exóticas. Ainda assim, há tempo para um belo trabalho de guitarra slide em No expectation. Como resultado, seu papel é totalmente secundário no álbum em geral.
Os destaques do álbum são: Sympathy for the devil, Street fighting man e Salt of the earth. Também é o início da parceria dos Stones com o produtor Jimmy Miller, que havia trabalhado com o Traffic e ajudou a finalmente afastar a banda do som embaralhado de sua carreira até aqui para uma sonoridade mais nítida e afirmativa.
As canções dos Stones não só estão melhores como nunca, como também tocam em termos relevantes. Street fighting man comenta os eventos do Maio de 1968 reclamando da passividade de Londres frente às rebeliões de Paris, e traz uma gravação acústica (com Richards no violão e baixo, Jones na cítara e tamboura [dois instrumentos de cordas indianos] e a participação de David Mason do Traffic no shehnai – um tipo de flautim indiano, que aparece no fim). O mercado americano a lançou como single em agosto de 1968 e chegou ao 48º lugar das paradas da Billboard.
Outro ponto alto para a carreira do grupo foi Sympathy for the devil, com sua poderosa letra (de Jagger) narrada pelo diabo e sonoridade que remete ao samba brasileiro (pois Jagger e Richards estiveram no nosso país de férias no começo do ano) com a faixa levada em uma espessa camada de percussão (com o músico convidado Rocky Dizdzomu nas congas e cowbell, auxiliado por Wyman no xequerê e Jones nas marracas e a bateria de Watts) com destaque do piano de Hopkins e a guitarra solo de Richards, que também toca o baixo. As gravações dessa faixa foram objeto do filme One Plus One de Jean-Luc Godard sobre a contracultura dos anos 1960, que mais tarde terminou ganhando o título da canção. A faixa causou bastante feito e é uma das obras mais importantes da carreira dos Stones. Os EUA também a lançaram como single em fevereiro de 1969, mas ela não entrou nas paradas.
Beggars Banquett devolveu a relevância aos Stones como um das principais bandas de rock da época, foi aclamado pela crítica e fez sucesso, chegando ao 3º e 5º lugar das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente – e não custa lembrar, como iniciado no anterior, foi lançado exatamente igual em ambos os países.
Um detalhe curioso é que a “capa do banheiro” que foi escolhida pela banda para ilustrar o álbum (e hoje é a versão disponível em CD ou streamings) foi rejeitada pela gravadora e o disco saiu com uma capa bege com o título e o nome da banda escritos, o que a tornou involuntariamente muito parecida com a capa do The White Album dos Beatles. Só nas reedições a partir dos anos 1980 é que a capa original apareceu.

Também é importante mencionar, a banda decidiu promover o lançamento do álbum com um especial de TV para o Natal chamado Rock and Roll Circus, gravado no início de dezembro de 1968, na qual tocariam cinco faixas ao vivo e contavam com alguns convidados especiais (The Who, John Lennon, Jethro Tull, Marianne Faithfull, Taj Mahal). Com performances de Jumpin’ Jack flash e Sympathy for the devil terminou sendo a última apresentação de Jones com a banda. Os Stones terminaram não lançando o vídeo, porque não ficaram satisfeitos com a própria performance, o que só seria feito nos anos 1990.
- Honky tonky women/ You can’t always get what you want, julho de 1969.
Enquanto o processo judicial de Jagger e Richards foi resolvido via anulação, Brian Jones continuou acusado não de uma, mas de duas prisões com posse de drogas, além de sério problemas com o uso das substâncias. Isso o impedia de viajar aos Estados Unidos, por exemplo, o que representava o fim do mais lucrativo mercado de shows dos Stones, que não faziam uma turnê desde a primavera do hemisfério norte de 1967, salvo apresentações ocasionais no ano de 1968. Somado a isso, o desinteresse e ausência de Jones nas sessões de gravação da banda, em março de 1969. Por fim, a banda decidiu demitir o guitarrista e isso foi feito.
Jones ainda participou do início das gravações de Honky tonk women, mas as sessões continuaram após sua saída e vários outros guitarristas foram considerados para ingressar na banda (destacadamente Ry Cooder), pensaram em convidar Eric Clapton (fora do Cream na época) ou Jimmy Page (que tinha começado o Led Zeppelin), mas terminaram convidando o jovem Mick Taylor, de apenas 19 anos, mas já brilhando em três álbuns da banda de blues John Mayal’s The Bluesbreakers. Taylor chegou e gravou algumas linhas de guitarra solo na faixa e ela foi lançada no verão.

Honky tonky women era um passo adiante (após Jumpin’ Jack flash) na sonoridade clássica dos Rolling Stones como conhecemos hoje e era um grande feito, mas teve a tragédia de ser lançada justamente no dia em que a morte de Brian Jones foi divulgada: o músico se afogou na noite anterior (03 de julho) na piscina de sua casa durante uma festa em situações nunca totalmente esclarecidas, mas geralmente associadas às drogas ou suas consequências. Dois dias depois, os Stones fizeram um show (já programado) no Hyde Park de Londres para apresentar Mick Taylor ao público e o transformaram numa homenagem a Jones.
Vista em si, Honky tonky women é uma faixa interessante, com um bom riff e um som equilibrado de guitarras, baixo, bateria e piano, com vocal forte. A faixa foi composta no Brasil, nas férias que Jagger e Richards passaram num sítio em São Paulo e observando a vida rural que associaram aos ambientes dos bares rurais dos negros norteamericanos.
Numa era na qual os álbuns agora eram o produto principal, este foi o último single dos Rolling Stones a ser lançados fora de um disco completo na carreira regular da banda. A faixa chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e EUA.
LET IT BLEED – 1969
Embora seja um clássico, este álbum é estranho por ser resultado de três sessões distintas, realizadas com três guitarristas diferentes: a primeira leva de gravações vem de fins de 1968, ainda com Brian Jones na guitarra, mas sua apatia o levou a ser demitido do grupo; vieram sessões com o seu pretenso substituto, o norteamericano Ry Cooder; e outras com o jovem Mick Taylor, de 19 anos, que terminou sendo o escolhido para ficar na banda. Portanto, é ao mesmo tempo, o último álbum com Brian Jones e o primeiro com Mick Taylor, embora cada qual só participasse de duas faixas.
Contudo, Jones morreu antes do lançamento do disco, o que causou grande comoção. Além disso, o disco traz o primeiro solo vocal de Keith Richards, em You got the silver, uma das melhores faixas do álbum, que traz Jones tocando uma autoharp. Outros destaques são Gimme shelter, Love in vain (um cover de Robert Johnson), o blues sobre um assassino em Midnight rambler e a gospel You can’t always get what you want, já adiantada como lado B do single Honky tonky women, que não está no disco, mas há uma outra versão dela, chamada Country honk women, onde brilha a guitarra de Taylor.
Outro diferencial do álbum é que, pela primeira vez, os Stones usam uma vasta gama de colaboradores, o que se tornará uma marca dali em diante. Além da banda (seja com Jones, Cooder ou Taylor) e o usual Nick Hopkins no piano e órgão, aparecem: Bobby Keys no saxofone (um músico texano que a banda conheceu anos antes em suas turnê e que vinha se tornando o principal artífice desse instrumento no rock mainstream – e tocaria com Eric Clapton, John Lennon e George Harrison em seus discos), que muito rapidamente se tornará um colaborador fixo do grupo e um dos grandes amigos de Richards; o pianista Leon Russell (estes dois músicos em Live with me); a cantora Merry Clayton (em Gimme shelter); Al Kooper no piano, trompa francesa e órgão em You can’t always get what you want; e os vocais da cantora Doris Troy (que cantou com Beatles e Pink Floyd), Madeline Bell e o The London Bach Choir, mais a percussão de Rocky Dijon na mesma faixa.
Este foi o primeiro álbum dos Stones a ser o n.º 01 nas paradas de álbuns da Inglaterra desde Aftermath, e chegou ao 3º lugar nos EUA.

GET YER YA-YA’S OUT: THE ROLLING STONES IN CONCERT – 1970 (ao vivo)
Para os Rolling Stones este é o primeiro álbum ao vivo deles. Faltando apenas um álbum dentro do contrato com a ABKCO de Allen Klein e aproveitando da volta triunfal da banda às turnês no segundo semestre de 1969, resolveram copilar este disco, gravado com equipamento profissional e de boa qualidade em três concertos no Madison Square Garden de Nova York, nos dias 27 e 28 (dois shows) de novembro de 1969, mais uma faixa (Love in vain) registrada no Baltimore Civic no dia 26. Montado para mostrar a potência dos Stones ao vivo, o set list combina hits (Jumpin’ Jack flash, Sympathy for the devil, Honky tonky women) com faixas mais obscuras, como Carol e Little Queenie (ambas de Chuck Berry), Love in vain (de Robert Johnson), além de uma versão explosiva da autoral Midnight rambler. O título é uma referência a uma canção de Blind Boy Fuller e “ya-ya’s” é uma gíria para “ass”, ou seja, a tradução é: “tire seu traseiro daqui”.
Este disco ao vivo, de certo modo, serve como trilha sonora para o filme-documentário Gimme Shelter, lançado no mesmo ano, que cobre a turnê de 1969 pelos EUA, embora, infelizmente, seu foco principal tenha sido o nefasto concerto no Altmont Free Festival, de dezembro, que foi marcado pela violência entre o público e na morte de um jovem negro nas mãos dos motoqueiros dos Hell Angels.
Uma curiosidade é que este álbum (e a turnê da qual se originou) foi a última vez em que os Stones excursionaram sem um time de apoio com outros músicos. Aqui apenas o quinteto e Ian Stewart tocando em um ou outro número. Também é a primeira vez que a guitarra de Mick Taylor preenche um álbum inteiro, ainda que ao vivo. Aclamado pela crítica como o melhor álbum ao vivo de rock já lançado até então (disputando a tapa com o Live at Leeds do The Who, do mesmo ano), foi um enorme sucesso e chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e 6º dos EUA.
STICKY FINGERS – 1971
Para muitos, este é o melhor álbum dos Rolling Stones, o primeiro de estúdio realizado inteiramente com Mick Taylor na guitarra solo. Aqui, o ciclo iniciado em Beggars Banquett se completa e este disco já traz inteiramente a sonoridade típica dos Stones. As parcerias com Jimmy Miller na produção e Nick Hopkins no piano continuam rendendo momentos sublimes. E Billy Preston (músico que se destacou na banda de Little Richards e que foi revelado ao grande público pelos Beatles, participando de suas canções, e depois, como cantor e compositor, também) participa tocando órgão em Can’t hear me knocking, e será um constante colaborador da banda daqui em diante. Outro que integra às fileiras da banda para parcerias duradouras é o saxofonista Bobby Keys.
A lista de faixas é um rosário de clássicos: Brown sugar, Sway, Wild horses, Bitch, I got the blues, Sister morphine, Dead flowers e Moonlight mile. A ex-namorada de Mick Jagger, a cantora Marianne Faithfull ganha o crédito de coautora de Sister morphine (que parece ser sobre ela), canção gravada ainda com Ry Cooder no slide guitar nas sessões de início de 1969 (!) – outra marca que será constante daqui em diante: reutilizar gravações antigas de projetos anteriores.
O conceito da capa do disco foi criada por Andy Warhol, que também tirou a foto de um modelo usando jeans, e, não, não é Mick Jagger usando calça! O design Craig Baun criou o efeito de uma capa completamente diferenciada, na qual o zíper da calça abria de verdade e mostrava outra imagem por baixo, de uma cueca branca. O pacote era considerado uma extravagância, mas como os Stones vendiam milhões e milhões de cópias, a gravadora bancou o custo. Mas apenas a primeira tiragem teve o efeito: as seguintes passaram a usar apenas uma fotografia comum.

Este disco foi o primeiro da banda gravado fora do acordo com a ABCKO de Allen Klein, que manteve os direitos autorais sobre todos os álbuns anteriores, o que faz com que – até hoje – os Stones não sejam proprietários das gravações masters de sua carreira até 1969. Livres do imbróglio, porém, o grupo inaugurou o selo The Rolling Stones Record (RSR), cuja logomarca da língua entre os lábios que virou um ícone, também estreia, criado pelo artista John Pasche. Os discos da RSR passam a ser distribuídos pela Atlantic Records, então, subsidiária da Warner Music.
De volta à música, Sticky Fingers é enérgico e de boa qualidade até o fim: um dos grandes álbuns da história do rock. Deste ponto em diante, não se separavam mais os singles dos álbuns, e deste trabalho, foi lançado como compacto Brown sugar/ Bitch, que chegou ao 2º e 1º lugar das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente. Os EUA ainda arriscaram outro compacto, com Wild horses/ Sway, que chegou ao 28º lugar. Quanto a Sticky Fingers em si, ele foi o primeiro álbum dos Stones a ser o primeiro lugar nas paradas tanto do Reino Unido quanto dos EUA.
O sucesso foi tão grande que, naquele mesmo ano de 1971, rendeu uma série de caça níqueis das antigas gravadoras: a Decca lançou a coletânea Gimme Shelter, com um apanhado geral das melhores canções de seu catálogo e a London (controlada pela ABKCO) lançou Hot-Rocks: 1964-1971, um álbum duplo com os maiores sucessos do grupo (e para muitos, a melhor coletânea da banda).
EXILE ON MAIN STREET – 1972
A outra metade dos fãs acha que este é que é o melhor álbum dos Stones. Se não melhor que Sticky Fingers – porque não é tão coeso – Exile… guarda uma áura especial, tendo em vista seu contexto e sua gravação. A banda teve problemas com impostos na Inglaterra e decidiu se exilar para não pagá-los. Assim, montaram base no sul da França. Alugaram um casarão (que serviu de QG para os Nazistas no país durante a II Guerra Mundial) e usaram o porão como estúdio de gravação. As sessões foram regadas a muitas drogas de todos os envolvidos e o resultado é uma qualidade sonora oscilante, com ruido e sons embaralhados.
Conduto, isso serve positivamente ao som sujo da banda e forma uma sonoridade única. O time dos Stones com Mick Taylor e a quadrilha de apoio com Jimmy Miller, Nick Hopkins, Bobby Keys, Billy Preston etc. se mantém e o resultado é um disco memorável. Primeiro álbum duplo da banda, traz uma sucessão de clássicos: Rock off, Rip this joint, Tumbling dice, Sweet Virginia, Let it loose, All down the line, Shine a light e mais um solo vocal de Keith Richards (o seu melhor), Happy.
As gravações caóticas resultaram que a participação dos membros é desigual: Bill Wyman, por exemplo, só toca em algumas faixas, sendo substituído na função por Richards, Taylor e até o músico de Los Angeles Bill Plummer. O estilo fragmentado das sessões gerou um trabalho de pós-produção intenso, pois muitas gravações na França só traziam parte da banda, e se tornou um pesadelo de mixagem. Um dos feitos mais incríveis foi o grupo criar um reinício na parte final de Tumbling dice para dar mais força à canção e como Charlie Watts não estava mais disponível, o produtor Jimmy Miller toca essa parte.
A banda foi aclamada pelo álbum e saiu em sua maior e mais celebrada turnê até então, se consolidando como a maior banda de rock do mundo, título que passou a ostentar dali em diante. Tumbling dice foi lançada como single e chegou ao 5º e 7º lugares das paradas do Reino Unido e EUA, e neste país, também lançaram Happy como segundo compacto, que chegou ao 22º lugar. No conjunto, Exile on Main Street chegou (como seu antecessor) ao 1º lugar das paradas nos dois lados do Atlântico.
Infelizmente, é o fim do ciclo clássico que iniciou com Beggars Banquett e constitui o apogeu fonográfico dos Stones.
GOATS HEAD SOUP – 1973
O que resta depois do apogeu? A queda! Infelizmente, esta é a sensação ao ouvir este disco. A banda está cansada e desencontrada, embora o mesmo time vencedor – Taylor, Miller, Hopkins, Preston, Keys etc. – esteja presente. Mas o fato é que, daqui em diante, a qualidade dos discos dos Stones será medida em razão inversamente proporcional à quantidade de heroína consumida por Keith Richards, que mergulhava fundo no vício.
Embora menos turbulentas do que as do álbum anterior, as gravações do disco tiveram que ocorrer na Jamaica, porque era um dos poucos países aos quais Keith Richards conseguia residência, por causa de seus notórios problemas com as drogas. Apenas a pós-produção foi feita em Los Angeles e Londres. Ainda assim, o uso de drogas fez com que o baixista Bill Wyman tocasse em apenas três das 10 faixas, com o instrumento tocado em overdubs por Richards ou Taylor nas restantes. E, num feito raro naqueles tempos, mesmo Richards não participa de uma faixa: Winter, que traz Jagger na guitarra base.
O maior destaque mesmo é a balada Angie, que se tornou um enorme sucesso, e é levada no piano de Nick Hopkins. Apesar do boato de ser inspirada na esposa de David Bowie, Jagger e Richards sempre negaram isso. Lançada como single, chegou ao 1º lugar das paradas dos EUA, embora em 5º no Reino Unido. Além dela, chama à atenção Doo doo doo doo doo (Heartbreaker), que traz uma letra sobre um policial matar um inocente com um tiro e uma menina morrer de overdose em um beco, é uma das mais bem resolvidas musicalmente do disco e foi lançada como segundo single apenas nos EUA e chegou à 15ª posição; e a obscena Star, star, que foi banida da rádio BBC por causa de sua letra. As críticas ao disco foram divisivas e o material é mesmo irregular, de modo que os Stones tocavam quatro faixas do álbum (a outra sendo Dancing with mr. D) na turnê 1973-74, mas depois disso não tocaram mais nenhuma delas ao vivo até a virada para o século XXI.
As sessões de gravação, contudo, ainda geraram duas famosas entradas que não foram utilizadas no álbum: a balada Waiting for a friend seria resgatada pela banda em 1981 até viraria single (!); enquanto Scarlet, com a participação especial de Jimmy Page na guitarra seria lançada no relançamento comemorativo de 2023.
Goats Head Soup foi o último disco da banda produzido por Jimmy Miller, que sucumbiu ao vício de drogas e não quis mais se envolver com os Stones depois disso. Apesar da qualidade inferior, o álbum ainda chegou ao 1º lugar das paradas nos dois lados do Atlântico, mas seria o último a ocupar tal posição na Inglaterra em um bom tempo.
IT’S ONLY ROCK’N’ROLL – 1974
A crítica sempre considerou este disco melhor do que o anterior, mas igualmente sem brilho. Os problemas com a heroína ainda afetam Keith Richards severamente aqui. O único real destaque do álbum é a faixa-título: It’s only rock’n’roll (but I like it) e ela tem uma história bastante curiosa…
Finda a turnê de 1973, Mick Taylor foi convidado para tocar no álbum solo de Ron Wood, guitarrista do The Faces, o que aproximou os dois. Então, Richards se juntou à turma, pois havia um estúdio na casa e Richards passou a morar no quarto de hóspedes de Wood, com os dois ficando bastante amigos e fazendo uma série de gravações juntos. Num dia, com Jagger presente, eles compuseram It’s only rock’n’roll e gravaram uma demo com Jagger nos vocais, Richards na guitarra, David Bowie nos backing vocals mais três membros dos Faces: Wood no violão de 12 cordas, Willie Weeks no baixo e Kenney Jones na bateria. E ficou tão bom que é a faixa do disco. Biógrafos insistem que o título da canção (e do disco) é um recado a Bianca Jagger, a ex-esposa do vocalista, que menosprezava a sua ocupação de rockstar.
Em seguida, a banda foi para Munique, na Alemanha, onde gravou as bases do disco, com os vocais e overdubs finalizados no estúdio caseiro de Jagger, em Londres. Sem Jimmy Miller, Jagger e Richards assumiram sozinhos a produção, como fizeram em Their Satanic Majesty Request, usando o pseudônimo The Glimmer Twins, mas na verdade, Richards estava bastante ausente, semi-incapacitado pelas drogas, o que resultou em Mick Taylor se dedicar bastante às sessões. Contudo, isso gerou um problema, pois o guitarrista reclamou a coautoria de pelo menos duas canções (Till the next goodbye e Time waits for no one), que foram negadas por Jagger e azedaram a relação de Taylor com a banda. Isso foi um fator contribuinte para que este fosse o último álbum de Taylor com os Stones.
Ademais, além da faixa-título (que foi lançada como single e chegou ao 10º lugar no Reino Unido e 16º nos EUA – resultados aquém da reputação dos Stones naqueles anos, o que foi uma surpresa, mas era um efeito do declínio vívido da banda), os poucos destaques do álbum são Time waits for no one e o cover dos Temptations, Ain’t too pround to beg (de Norman Whittfield e Eddie Holland). Esta última foi lançada como compacto apenas nos EUA e chegou ao 17º lugar, ou seja, tão bom quanto a faixa principal.
A capa do álbum é uma pintura do artista belga Guy Peellaert, que retrata os Stones como divindades do rock (refletindo, provavelmente, o modo como viam a si mesmos àquela altura), cercados de adoradores em uma cena de consagração ao pé de uma escadaria, como num ritual.
Como no disco anterior, as faixas de It’s Only Rock’n’Roll não sobreviveram ao set list dos shows dos Stones nem até o fim da década, não sendo nenhuma delas executada ao vivo após 1977 até a virada do século, à exceção da faixa-título, que virou uma peça central e constante dos concertos, como Jumpin’ Jack flash ou Gimme shelter. Ain’t too pround to beg, contudo, teve um grande momento em 2007, quando os Stones a tocaram no Festival da Ilha de Wight ao lado de Amy Winehouse.
It’s Only Rock’n’Rock traz participações de Ian Stewart, Nick Hopkins, Billy Preston e, pela primeira vez, o percussionista Ray Cooper, que tocava na banda de Elton John e se tornará um parceiro constante. O álbum chegou ao 1º lugar das paradas dos EUA, mas no Reino Unido ficou no 2º lugar.
BLACK AND BLUE – 1976
Após o lançamento de It’s Only Rock’n’Roll e sua recepção relativamente fria, Mick Jagger decidiu que a banda gravasse um novo álbum (melhor) para a já planejada grande turnê de verão pelos EUA, a Tour of Americas 1975. Insatisfeito com isso, Mick Taylor se demitiu da banda, e os Stones decidiram (como fizeram nas outras duas vezes em que isso ocorreu) seguir adiante com a gravação e usar as sessões como teste para novos guitarristas.
A diferença é que, dessa vez, inúmeros músicos circularam pelas gravações em Munique, na Alemanha, incluindo três que terminaram no disco: Harvey Mendel (guitarrista americano do Cannet Heat, que toca em duas faixas, incluindo Hot stuff), Wayne Perkins (outro americano, sessionman herói do lendário Muscle Shoals, que tocou com Joni Mitchel, Leon Russell e Bob Marley and the Wailers, e aparece em três faixas, incluindo Fool to cry e Hand of fate) e Ron Wood (advindo da Cena de R&B de Londres, foi baixista do The Jeff Beck Group entre 1967-1969 e guitarrista do The Faces entre 1969-1975, ambas as bandas com Rod Stewart nos vocais; e que toca guitarra em três faixas, dentre as quais Cherry on baby e Hey, Negritta, na qual é creditado como coautor, além de fazer backing vocals em outras cinco).
Além do trio, também participaram das sessões guitarristas como Jeff Beck, Rory Gallegher e Steve Marriot (do Small Faces e Humblin’ Pie), embora nenhum destes tivesse uma real pretensão de entrar para a banda e também não aparecem no disco.
A banda realmente gostou muito do trabalho de Wayne Perkins, mas como ele era americano, Keith Richards fez lobby para que o escolhido fosse Ron Wood e os Stones permanecessem uma banda britânica. Ainda assim, Wood tocou na turnê de 1975 como um “músico convidado”. Black and Blue não ficou pronto há tempo da turnê, então, o grupo decidiu finalizar o disco só depois e apenas na época do lançamento, em abril de 1976, Wood foi oficializado como o novo guitarrista dos Stones. A entrada de Wood encerra a sonoridade da banda com duas guitarras distintas – marca do período de Taylor – e volta à unidade de dois guitarristas com estilos similares, que tinham com Brian Jones. Porém, os estilos de Richards e Woods são ainda mais parecidos, mas isso foi usado de maneira positiva pelo grupo.
No apoio de Black and Blue, participações de Nick Hopkins e, principalmente, Billy Preston nos teclados, que ganha até um crédito de coautor em Melody. Ian Stewart aparece apenas na percussão em Hot stuff. No todo, o álbum não é grande coisa, e os dois destaques são mesmo Fool to cry (que traz Jagger no piano principal e Hopkins tocando um sintetizador com sons de cordas, e chegou ao 6º e 10º lugares nas paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente) e Hot stuff (que antecipa as explorações dos Stones com o funk tão em voga na época da Discoteca, traz uma guitarra com wah-wah de Mandel e foi lançada como single apenas nos EUA, chegando ao 49º lugar). Podemos mencionar ainda a exploração do reggae no cover de Cherry on baby, de Eric Donaldson.
Com seu material irregular, Black and Blue ainda chegou ao 1º lugar das paradas dos EUA na esteira do sucesso da turnê do ano anterior, e no Reino Unido, de novo, ficou em 2º lugar.

LOVE YOU LIVE – 1977 (ao vivo)
Talvez sem querer, os Stones repetem a estratégia de consolidar um novo guitarrista via álbum ao vivo: copilam momentos da turnê de 1975-1977 com Ron Wood na guitarra. Love You Live, contudo, é um álbum duplo com uma bela capa ilustrada por Andy Warhol que se abre para mostrar a banda completa, no estilo desenhado e colorido do período tardio do artista.
O set list traz faixas de 1975 em Londres, a maior parte advinda de 1976 em Paris e o Lado 3 é do lendário show no El Mocambo Tavern, um pequeno bar em Toronto, no Canadá, em 1977. Assim, há versões dos clássicos de sempre (Jumpin’ Jack flash, Honky tonky women, Brown sugar), alhuns destaques mais recentes (Star, star e Hot stuff) e a seção do El Mocambo traz clássicos do blues, como Mannish boy (de Bo Diddey) e as velhas conhecidas Little red rooster (Willie Dixon) e Around and around (Chuck Berry). O álbum foi elogiado por sua qualidade, mas o contexto das gravações foi turbulento: o show de Paris foi feito imediatamente após Keith Richards receber a notícia de que seu filho Tara, de dois meses, tinha falecido no berço, e a apresentação no El Mocambo veio após o guitarrista ser preso por porte e tráfico de drogas no Canadá, um processo muito pior do que o de 10 anos antes e que poderia lhe render décadas na prisão. (Ele se livrou porque a esposa do primeiro-ministro do país estava tendo um caso com Mick Jagger e para evitar um escândalo, sua pena foi revertida para a realização de um concerto beneficente. Mas de qualquer modo, foi um evento decisivo para Richards abandonar a heroína).
De qualquer modo, o show no El Mocambo ficou tão lendário com o passar dos anos que foi lançado na íntegra décadas depois, em 2022. Love You Live fez sucesso e chegou ao 3º e ao 5º lugares das paradas do Reino Unido e dos EUA, respectivamente.
SOME GIRLS – 1978
Apesar deste álbum ser melhor do que o anterior, é curioso notar que este tenha sido o álbum de maior sucesso dos Rolling Stones nos EUA, puxado pelo megahit Miss you. E o motivo é provavelmente mundano: a sonoridade disco da canção, numa época em que a discoteca e os Embalos de Sábado à Noite sacudiam o mundo. Contudo, dá para arriscar que este é o melhor disco da banda desde Exile on Main Street, pois traz Respectable, Beast of burden, Shattered e um bom cover de Just my imagination (running away with me), de Norman Whitfield e Barrett Strong, dos Temptations da Motown.
Também é o primeiro álbum integral com Ron Wood, que faz intenso uso de seus dotes nas seis cordas e usa o slide guitar como recurso frequente. Os críticos supõem – e Keith Richards confirma em seu livro – que o salto de qualidade se deve à recuperação do Sr. Richards dos problemas com as drogas. A prisão no Canadá foi revertida a um concerto beneficente pelo fato do guitarrista iniciar um tratamento de desintoxicação que foi bem sucedido. As gravações vieram logo em seguida, na França, e a bem da verdade, Richards não estava totalmente recuperado, mas a empolgação de Jagger com a disco music e a guitarra afiada de Ron Wood foram o suficiente para manter o bom nível das sessões, que rendeu nada menos do que 50 canções! Os ensaios e gravações foram tão frutíferos que muitas dessas faixas veriam a luz do dia em álbuns futuros do grupo.
A capa do disco é do artista Peter Corrinston, que usou como base uma propaganda da Valmor Products Corporation e os rostos de beldades clássicas como Farrah Fawcett, Judy Garland e Marylin Monroe lado a lado com montagens que transformam os Stones em drags, além do rosto de George Harrison dos Beatles, como uma piada. As cores da embalagem mudavam de país para país para criar elementos únicos, mas a banda sofreu processos judiciais por uso indevido das imagens das artistas ou de suas herdeiras e da Valmor, resultando num indenização à empresa e na retirada do rosto das mulheres, que ficaram vazios nas impressões subsequentes do LP e só foram recolocadas na versão em CD de 1986.
O álbum também marca uma mudança de negócios da banda: a Rolling Stones Records passa ser distribuída pela Atlantic Music/Warner Music apenas nos EUA, enquanto no Reino Unido e resto do mundo assume a britânica EMI (a casa dos Beatles).
O disco usa um time de colaboradores bem menor e mais discreto do que nos álbuns anteriores, com a maior parte da música sendo providenciada pelos Stones mesmo, e só algumas exceções com espaço para colaboradores, que dessa vez foram nomes novos, rompendo a linha que se mantinha desde 1968, sem participações de Nick Hopkins ou Billy Preston, e nem mesmo Ian Stewart aparece. No lugar deles, o bluesman Sugar Blue toca gaita em Miss you e Some girls; Ian McLagan (dos Faces) toca piano em Miss you e órgão em Just my imagination; Mel Colins toca sax em Miss you e Simon Kirke congas em Shattered. E só. A produção é novamente dos Glimmer Twins e a engenharia de som é de Chris Kimsey, que já tinha trabalhado em Exile on Mainstreet e seria, dali em diante, um parceiro constante da banda.
Na parte musical, Miss you foi o grande destaque, embora tenha causado alguma controvérsia racial por sua letra, mas lançada como single chegou ao 1º lugar das paradas dos EUA e 3º no Reino Unido. Beast of burden foi lançada como compacto apenas nos EUA e chegou ao 8º lugar, e Respectable (que traz Jagger na terceira guitarra), por sua vez, foi lançada como single apenas no Reino Unido e chegou à 23ª posição, enquanto Shattered foi lançada apenas nos EUA e ficou na 31ª posição. Como resultado, diferentemente dos três álbuns de estúdio anteriores, praticamente todas as faixas de Some Girls permaneceram no set list dos concertos da banda pelo restante da década.
Com nada menos do que quatro faixas no Top40, Some Girls foi um fenômeno de sucesso para os Stones em pleno fim da década de 1970, e ficou em 1º lugar das paradas dos EUA, embora, de novo apenas em 2º no Reino Unido. Os críticos ainda apontam este como o início de uma trilogia de bons discos da banda.
EMOCIONAL RESCUE – 1980
Após uma pequena turnê e o julgamento que inocentou Richards, os Stones voltaram a Paris e gravaram Emotional Rescue, novamente em sessões muito produtivas, que renderam dezenas de faixas, algumas das quais lançadas mais tarde. Também de novo, o disco é basicamente tocado apenas pela banda, com apenas algumas adesões, trazendo de volta os velhos colaboradores, mas com Ian Steawrt e Nick Hopkins tocando duas faixas desimportantes cada e apenas o saxofonista Bob Keys com mais destaque, tocando na metade do disco.
O destaque maior é faixa-título, que chegou ao 9º e 3º lugares das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente; mas vale nota She’s so cold (33ª e 26ª posições), enquanto Dance (part 1) traz a primeira parceria Jagger-Richards-Wood.
Este álbum pode ser o elo mais fraco da “trilogia do retorno” ao sucesso (de crítica) dos Stones, mas foi o primeiro disco da banda a ser 1º lugar das paradas tanto da Inglaterra quanto dos EUA desde Goats Head Soup.
TATTOO YOU – 1981
A roda do sucesso não parava de girar e com uma grande turnê agendada para a passagem de 1981-1982, Mick Jagger queria um álbum novo para promover, MAS… ele e Keith Richards estavam tendo sérios problemas, não havia canções novas e não havia tempo de escrevê-las e produzi-las. Então, a saída foi se debruçar sobre o arquivo do grupo e pinçar o material de lá: retrabalhar canções deixadas de lado nos discos anteriores. Por incrível que pareça, deu certo, gerou um disco aclamado pela crítica e um grande sucesso!
Para os críticos, este é o ponto mais alto da “trilogia do retorno” e foi um grande sucesso, o segundo disco da banda mais vendido nos EUA. O grande megahit Star me up puxou o sucesso e é, de fato, uma canção emblemática da sonoridade da banda e presença certa em praticamente todos os seus concertos desde então. A faixa foi esboçada nas sessões de Some Girls e era um número mais voltado ao reggae, porém, o co-produtor Chris Kimsey encontrou dois takes mais rocks e foi daí que a canção ganhou sua forma final. Lançada como o primeiro single do álbum, chegou ao 7º lugar do Reino Unido, a última vez que a banda atingiu o Top10, enquanto nos EUA ficou num excelente 2º lugar, o melhor resultado de toda a década de 1980.
Mas também são destaques Hang fire, Worried about you, Heaven e Waiting for a friend, esta última advinda ainda das sessões de Goats Head Soup, e portanto, trazendo Mick Taylor na guitarra e Nick Hopkins no piano. Para Tattoo You, foi adicionado o solo de saxofone de Sonny Rollins. A balada foi lançada como segundo single e chegou ao 13º lugar das paradas dos EUA, mas no Reino Unido atingiu apenas o 50º lugar. Hang fire foi lançada como terceiro single e chegou ao 20º lugar no Reino Unido, sendo um sucesso radiofônico muito grande, o mesmo ocorrendo com seu Lado B, também do álbum, Neighbours, que traz outra participação de Sonny Rollins. A balada Worried about you também virou uma peça conhecida dos fãs e foi gravada nas sessões de Black and Blue e traz a guitarra solo de Wayne Perkins, além de Jagger no piano e num vocal em falsete.
Tattoo You também traz duas parcerias Jagger-Richards-Wood: Black limousine e No use in crying. Além disso, este foi o último álbum gravado com a colaboração do pianista Nick Hopkins, ainda que advinda de sessões pretéritas. O álbum fez muito sucesso e chegou ao 1º lugar das paradas dos EUA, e como havia se tornado padrão, no 2º lugar no Reino Unido.

STILL LIFE – 1982 (ao vivo)
Visto em retrospecto, um álbum ao vivo celebra a “trilogia do retorno” dos Stones (Some Girls, Emocional Rescue e Tattoo You), ainda que fizesse apenas cinco anos (e três discos) desde a última coleção de concertos. Montado meio às pressas, Still Life coleta a vitoriosa turnê dos Stones pelos EUA (em 1981) e Europa (1982) a maior já realizada até então. Curiosamente, o repertório privilegia um conjunto de canções mais antigas e meio fora de propósito (Satisfaction, Time is on my side… de novo?), e não cobre o período mais recente à exceção de Start me up e Just my imagination. A banda é acompanhada por Ian Stewart no piano, Ian McLagan nos teclados e Ernie Watts no saxofone. O álbum foi criticado pela impressa por sua falta de ímpeto, mas ainda assim, fez sucesso e chegou ao 4º e 5º lugares das paradas do Reino Unido e EUA.
UNDERCOVER – 1983
Depois do sucesso de público e crítica com a “trilogia do retorno”, os Rolling Stones novamente descem a ladeira, desta vez, influenciados pela incapacidade de competir com as novas gerações e os graves problemas internos, particularmente entre Jagger e Richards. Era o início do que Richards chama em seu livro de “a III Guerra Mundial”.
O fato é que após quase uma década semi-incapacitado pelo uso abusivo de drogas, Richards estava de volta à ativa 100%, livre das drogas pesadas, e isso obrigou Jagger – já acostumado a levar sozinho as principais decisões criativas – a dividir o bolo, o que não era fácil. Ademais, o vocalista achava que a banda devia seguir as tendências de seu tempo (o que vinha rendendo sucesso com suas aproximações com a disco, reggae e world music), enquanto o guitarrista preferia se manter na linha clássica do grupo, de rock e blues. A dupla não chegou a um acordo e as gravações (as primeiras “de verdade” em três anos, já que o álbum anterior fora de regravações de material de arquivo) foram um inferno de brigas entre eles.
O material do álbum sofre dessa disputa ao mesmo tempo em que a banda não se acerta nos novos termos. Como resultado, nem a faixa-título Undercover on the night é um destaque. Apesar do ponto positivo de ser um letra política sobre a interferência dos EUA nas ditaduras latino-americanas (em especial na Nicarágua), a canção é simplesmente sem graça e ainda é a melhor do álbum. Lançada como single, chegou ao 11º e 9º lugares das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente. She was hot foi o segundo compacto, mas ficou apenas nas posições 42ª e 44ª. Too much blood também foi lançada em single, mas não chegou às paradas e é uma faixa curiosa, com sua letra sobre violência e referências ao filme Massacre da Serra Elétrica. Pretty beat up é outro número assinado por Jagger-Richards-Wood.
A falta de brilho de Undercover se refletiu nas vendas: o disco ficou em 3º e 4º lugar das paradas dos EUA e Reino Unido. Com isso, se rompeu uma linha de oito álbuns de estúdio consecutivos em primeiro lugar das paradas dos EUA pela banda, iniciado com Sticky Fingers lá atrás em 1971. A produção dessa vez é assinada por Jagger e Richards mais Chris Kimsey, velho engenheiro de som da banda. Aqui também se inicia a parceria com o tecladista Chuck Leavell (ex-membro da The Allman Brothers Band e que viraria um constante parceiro do grupo), embora Ian Stewart ainda divida os teclados com ele em She was hot. Outros participantes do disco foram David Sanborn no saxofone e Sly Dunbar liderando um time de percussionistas.
DIRTY WORK – 1986
Os problemas entre Jagger e Richards estavam ainda piores e o resultado é um disco senão pior, pelo menos no mesmo nível do anterior. Ainda assim, foi um pouco melhor sucedido nas críticas, mas não nas vendas. O ruído entre a dupla piorou com Mick Jagger iniciando uma carreira solo paralela, lançando o álbum She’s the Boss, em 1985, com uma pegada mais pop que não conseguia imprimir com os Stones. Também é dito que o vocalista insistia para que a banda fosse apresentada como “Mick Jagger and the Rolling Stones”. Como resultado, no megaconcerto beneficente Live Aid, em 1985, Jagger se apresentou solo, enquanto Richards e Wood tocaram como apoio de Bob Dylan.
Como resultado, as sessões de gravação, na primavera e verão de 1985, foram principalmente conduzidas por Richards sem a participação de Jagger, que foi basicamente gravar seus vocais sozinho. Mas os demais membros da banda, Wood, Wyman e Watts, participaram de modo descontínuo, ficando ausentes de várias faixas. Especialmente Watts, que enfrentava o vício em álcool e heroína e não tocou em várias faixas, sendo substituído por Steve Jordan, e também, Anton Fig. Até Ron Wood toca bateria em duas faixas, Sleep tonight sendo uma delas.
Além do retorno do tecladista Chuck Leavell, a banda ainda conta com várias participações especiais, dentre os quais o compositor Tom Waits nos vocais de apoio e Jimmy Page tocando guitarra em One hit (to the body), mais uma canção assinada por Jagger-Richards-Wood. Aliás, neste disco, nada menos do que quatro faixas são assinadas pelo trio! Também há uma canção (Back to zero) assinada por Jagger-Richards-Leavell. Como apenas oito canções do álbum são originais, isso nos deixa com somente três faixas assinadas apenas por Jagger & Richards! Entre as participações especiais estão também Ian Stewart no piano, Ivan Neville nos teclados, Jimmy Cliff nos backing vocals e o compositor Bobby Womack (sim, ele mesmo, o autor de It’s all over now) na guitarra. O produtor do disco foi Steve Lillywhite, alguém que ficaria bastante famoso 20 anos depois, gravando artistas como Amy Winehouse.
O cover de Harlem shuffle (Bob Relf, Ernest Nelson, a dupla de R&B Bob & Earl, que a lançou em 1963) terminou sendo o maior destaque e foi lançado como single (a primeira vez que uma canção não-autoral era o carro-chefe de um álbum desde os primórdios do grupo!, mas um reflexo do tempo de vacas magras). Chegou ao 5º lugar nas paradas dos EUA e 13º no Reino Unido. One hit (to the body) foi o segundo compacto, e chegou ao 28º lugar nos EUA, mas apenas ao 80º no Reino Unido. Dirty Work não foi bem recebido pela crítica, mas ainda fez sucesso, pois chegou ao 4º lugar das paradas do Reino Unido e dos EUA.
O álbum quase foi o fim dos Rolling Stones. Usando os problemas de Watts como desculpa, Jagger decidiu não fazer uma turnê para promover o disco e foi fazer seu segundo disco solo, Primitive Cool, que sairia em 1987. Em resposta, Keith Richards também gravaria seu primeiro álbum solo, Talking is Cheap, em 1988.
Dirty Work foi dedicado a Ian Stewart, o roadie e pianista que acompanhou a banda desde o início e que faleceu em dezembro de 1985 (após as sessões de gravação) de problemas cardíacos. A banda incluiu um pequeno enxerto de 30 segundos dele tocando o blues Key to highway como uma faixa escondida no fim do Lado B.
STEEL WHEELS – 1989
Mais um “retorno” dos Rolling Stones. A banda estava praticamente extinta, mas após três anos de hiato, Jagger e Richards conseguiram não apenas se conciliar, mas voltar a produzir canções furiosamente, compondo algo em torno de 50 canções! O que mobilizou o reencontro, aparentemente, foram dois motivos: primeiro, a indução da banda no Rock and Roll Hall of Fame, no início de 1989, mas especialmente, o fato de que o segundo álbum solo de Jagger foi desprezado pela crítica, ao passo que a estreia individual de Richards foi bastante elogiada.
De qualquer modo, o resultado do reencontro da dupla, que conseguiu deixar suas diferenças para trás, é um disco muito superior aos dois anteriores e que rendeu um grande sucesso em duas faixas: a excelente Mixed emotions e Rock and a hard place. Lançada como primeiro single e parecendo falar da relação entre Jagger e Richards em vez de um caso amoroso, Mixed emotions é cheia de energia, boa melodia, um refrão-chiclete e aquela sonoridade clássica da banda, o que foi um prato cheio para as rádios do fim da década, o que a fez chegar ao 36º lugar das paradas do Reino Unido (à esta altura uma ótima posição para uma banda com década de estrada), mas ao 5º lugar nos EUA, um grande feito.
Porém, daqui em diante, precisamos falar da estratificação do mercado: a globalização levou à maior diversidade do mercado internacional e a ascensão do pop como principal estilo musical de massa. Dessa forma, o rock começou gradativamente (mas decisivamente) a ser um gênero de nicho de mercado, incapaz de se impor diante do consumo em geral como ocorria desde a década de 1960. Então, começou a deixar de frequentar o Top40 da Billboard, que foi povoado por outros gêneros musicais e isso motivou a revista a criar listas mais específicas, como a Mainstream Rock, que copilava as vendas apenas das mais populares bandas de rock, o que passará daqui em diante a ser o principal referencial de sucesso (e não o mercado como um todo). Com isso, Mixed emotions, por exemplo, chegou ao 1º lugar da Mainstream Rock.
Ilustrando isso melhor ainda, Rock and a hard place foi o segundo single, e enquanto foi o 63º lugar no Reino Unido, na parada geral da Billboard ficou em 23º lugar e se tornou o último Top40 que os Stones conseguiriam em sua carreira. Na Mainstream Rock, ela chegou ao 1º lugar das paradas e é isso o que conta mais, daqui em diante. O terceiro compacto Almost hear you sigh fez carreira semelhante: 31º lugar no Reino Unido, 50º nos EUA e 1º lugar na Mainstream Rock.
A produção do álbum voltou às mãos de Chris Kimsey, juntamente com Jagger e Richards. O clima mais ameno também motivou o início da Era das Grandes Turnês Mundiais que se tornaram a marca da banda desde então. Este foi o primeiro disco digital dos Stones (lançado primeiramente em CD) e também o último gravado com o baixista Bill Wyman, que deixou a banda após a turnê, em 1991.
Outra questão é que Steel Wheels marca o início de uma curta parceria com a Sony Music/CBS Records após mais de uma década com a EMI distribuindo seus discos no Reino Unido e resto do mundo. Isso também marcou o fim da parceria com a Atlantic Records/Warner Music que existia desde 1971.

FLASHPOINT – 1991 (ao vivo)
Nove anos após seus último álbum ao vivo, os Stones lançam Flashpoint para registrar a vitoriosa turnê de 1989-1990 e, a partir daqui, virará padrão alternar sempre um disco de estúdio com outro ao vivo, ainda que os lançamentos comecem a esparsar no tempo, em vista das décadas de atividade do grupo. Este álbum ao vivo copila apresentações nos EUA, no Reino Unido e no Japão e faz uma combinação dos grandes hits, algumas faixas históricas menos conhecidas e sucessos recentes.
O mais interessante, contudo, é que o álbum veio com duas faixas inéditas de estúdio: Highwire, uma canção de protesto contra a Guerra do Golfo, que eclodia naqueles tempos, e lançada como single chegou ao 29º lugar no Reino Unido, 57º nos EUA e 1º na Mainstream Rock; e Sex drive, que não enttrou nas paradas gerais, mas chegou ao 40º lugar na Mainstream Rock. No Reino Unido ainda houve outro single extraído do disco: a versão ao vivo de Ruby tuesday, que chegou ao respeitável 59º lugar. Essas faixas de estúdio seriam as últimas participações do baixista Bill Wyman como membro oficial da banda e Flashpoint foi o último álbum ao qual ele foi envolvido. Wyman pediu demissão da banda no início de 1991, não mais interessado em fazer longas turnês como a que gerou este disco.
Bem recebido pelo público, Flashpoint chegou ao 6º lugar das paradas do Reino Unido e 16º nos EUA.
VOODOO LOUNGE – 1994
Voodoo Lounge é o 20º álbum de estúdio dos Stones, e o primeiro gravado sem o baixista Bill Wyman, que não foi substituído: o baixo foi executado por um músico contratado, Darryl Jones, que se mantém com a banda até hoje. A partir daqui, os Stones são apenas um quarteto, com Jagger, Richards, Wood e Watts.
Após a turnê anterior, a banda assinou um novo contrato de distribuição de seus discos, encerrando a curta parceria com a Sony e assumindo a parceria com a Virgin Records, em 1991, mas Wyman se recusou e se demitiu. O grupo passou um tempo insistindo que ele reconsiderasse, mas por fim, anunciou oficialmente seu desligamento em 1993. Nesse meio tempo, Jagger e Richards lançaram novos álbuns solo, com o guitarrista publicando Main Offender, em 1992, e o vocalista saindo com Wandering Spirit, em 1993.
Em seguida, a dupla se reuniu e compôs o novo material que foi gravado no estúdio de Ron Wood em Dublin, na Escócia, e passou por overdubs e mixagem em Los Angeles e Nova York. Com produção do baixista Don Was, o disco se volta para a sonoridade clássica dos Stones e resulta em seu melhor álbum desde Tattoo You, de 1981. Entre suas faixas, estão algumas das melhores canções do período tardio da banda, como Love is strong, You got me rocking e Out of tears. As três foram lançadas como singles de promoção.
Love is strong é a mais lembrada das faixas, e chegou ao bom 14º lugar das paradas do Reino Unido, embora nos EUA só tenha conseguido a 91ª posição na parada geral, mas o 2º lugar na Mainstream Rock. Ainda assim, ela foi considerada uma decepção comercial, pois poderia ter atingido picos mais altos de sucesso, ainda que tenha tido grande execução nas rádios e tenha virado um número importante nos concertos daquela década. You got me rocking atingiu o 23º lugar no Reino Unido e de novo o 2º lugar na Mainstream Rock, ainda que não tenha aparecido na parada principal. A balada Out of tears foi ao 36º lugar no Reino Unido, apareceu na parada geral da Billboard em 60º lugar e em 14º na Mainstream Rock. O disco ainda teve fôlego para um quarto compacto, com I go wild, que ficou em 29º e 20º lugares no Reino Unido e Mainstream Rock, respectivamente.
A crítica não se empolgou tanto com o disco, reclamando de “mais do mesmo”, mas Voodoo Lounge foi um grande sucesso de público, chegando ao 1º lugar das paradas da Inglaterra pela primeira vez desde 1980 (em Emocional Rescue), embora nos EUA tenha ficado apenas em 2º lugar, atrás da trilha sonora do Rei Leão, de Elton John. Um ano depois do lançamento, Jagger se queixou da sonoridade tradicional do disco e que queria ter experimentado outros cenários musicais, o que faria na próxima vez.
Novamente se seguiu uma turnê mundial gigantesca, a maior e mais lucrativa até então, e a primeira que trouxe o grupo ao Brasil.

STRIPPED – 1995 (ao vivo)
Mantendo a tradição recente de alternar discos de estúdio e ao vivo, Stripped foi uma tentativa de reunir performances acústicas ou desplugadas de suas canções, talvez como um tipo de resposta ao formato do MTV Unplugged, que naqueles tempos já tinha rendido tanto sucesso a nomes como Eric Clapton ou Nirvana. Contudo, o álbum trouxe seis faixas ao vivo (tocadas em locais pequenos) e outras oito gravadas em estúdio, basicamente ignorando o repertório das décadas recentes e focando nos clássicos dos anos 1960 e 70 mais algumas surpresas.
Dentre releituras em estúdio de Not fade away e Wild horses, e ao vivo de Street fighting man e Let it bleed, o que mais chamou a atenção foi o cover de Like a rollin’ stone, de Bob Dylan, que foi o primeiro single e chegou ao 12º e ao 16º lugares das paradas do Reino Unido e Mainstream Rock; enquanto Wild horses foi o segundo compacto, mas não atingiu às paradas. O álbum chegou ao 9º lugar no Reino Unido e EUA.
Em 2016, os Stones lançaram uma versão expandida do álbum, chamada Totally Stripped, que além 14 faixas, incluiu um DVD duplo com performances ao vivo e ensaios em vídeo.
BRIDGES TO BABYLON – 1997
Disco de menor qualidade do que o anterior, novamente produzido por Don Was, mas com o diferencial de trazer outros produtores convidados (Rob Fraboni, Danny Saber, The Dust Brothers) e mesclar o som clássico dos Stones com outras sonoridades, como grooves africanos, RAP e até toques eletrônicos, inclusive, samplers. Isso atendia ao desejo de Mick Jagger (mas não de Keith Richards) de estender a sonoridade do grupo que vinha desde o material do fim dos anos 1970, mas que o vocalista queria levar para outro patamar e foi frustrado nessa empreita no álbum anterior.
Talvez por esse ponto, apesar de uma frutífera reunião de Jagger e Richards em sessões de composições entre 1996 e 1997, nas sessões de gravação em Los Angeles o clima azedou e houve bastante conflitos. Além de não concordar com a expansão sonora de Jagger, Richards teve dificuldades em trabalhar com o time de produtores superstar convidado pelo vocalista, o que incluía Babyface, cuja contribuição terminou descartada. A tensão chegou ao ponto de Richards expulsar Danny Saber do estúdio ao descobrir que ele estava fazendo overdubs de guitarras por si só. Como resultado, na reta final das sessões, o guitarrista se isolou com Rob Fraboni para se dedicar ao seu próprio material, o que faz deste o único disco da banda a ter três canções cantadas por ele.
Mas este clima ruim deve ter contribuído para Bridges to Babylon encerrar o ciclo produtivo dos Stones que se desenvolvia desde sempre, inclusive, nos últimos anos, e daqui em diante, a banda só lançará álbuns bissextos, ou seja, sob uma frequência irregular e muito espaçada.
O álbum trouxe não somente um time de produtores, mas um time de participações especiais. Além de Billy Preston e Matt Clifford nos teclados e um naipe de sopros, temos Waddy Watchel na guitarra, Jim Keltner na percussão e Blondie Chaplin (ex-membro dos Beach Boys) toca baixo e piano (e se torna um colaborador constante da banda a partir daqui), além dos costumeiros backing vocals. Darryl Jones toca o baixo, mas dessa vez, há um time de nove baixistas espalhados pelo disco, além dele e Chaplin, mais Jaime Muhoberac (que também toca teclados), Me’Shell Ndegeocello, Danny Saber (que também toca guitarra e teclados) e o produtor Don Was.
No fim, as sessões de quatro meses em estúdio renderam certo incremento ao som da banda e entre os destaques do disco estão Out of control e Saint on me. Mas o grande sucesso foi Anybody seen my baby?, que contou com participação do rapper Biz Markie e teve coautoria creditada à cantora canadense k.d. Lang e Ben Mink, pois o refrão é muito similar à canção Constant craving, que fizera sucesso em 1992 (Jagger e Richards afirmaram nunca ter ouvido aquela canção, mas decidiram dar o crédito para evitar problemas judiciais) e ganhou um famoso videoclipe estrelado pela estrela em ascensão Angelina Jolie, com quem Jagger teve um affair. A faixa foi o primeiro single do disco e fez bem nas paradas: ficou em 22º lugar no Reino Unido e 3º lugar na Mainstream Rock.
Saint on me foi o segundo single e chegou ao 26º lugar no Reino Unido, enquanto nos EUA entrou na parada geral em 97º lugar e em 7º na Adult Alternative Songs da Billboard. Out of control ainda entrou em 51º no Reino Unido, mas não atingiu as paradas dos EUA. O álbum Bridges to Babylon chegou aos números 6º e 3º do Reino Unido e EUA, o que marca um grande sucesso, embora a recepção da crítica não foi tão calorosa.

NO SECURITY – 1998 (ao vivo)
A boa recepção de público de Bridges to Babylon gerou uma grande turnê mundial chamada Bridges to Babylon Tour, que contava até com um cenário especial de ruínas no deserto em referência à arte interna do álbum anterior e passou pelo Brasil, assim como a anterior. Então, mantendo a regra de alternar discos de estúdio e ao vivo, os Stones lançaram No Security, seu quarto do tipo em 14 anos.
Dessa vez, contudo, Jagger teve o cuidado de selecionar números que não tivessem aparecido nos álbuns anteriores e evitar a repetição excessiva. Então, o disco privilegia canções que foram pouco tocadas ao vivo (incluindo clássicos Lado B como Live with me ou Sister morphine, algum material mais recente, uns números de blues e R&B e o único medalhão Gimme shelter) extraídas de shows diversos na Holanda, Alemanha, EUA e Argentina. Entre os músicos de apoio, os retornos de Chuck Leavell nos teclados e Bobby Keys no saxofone, além de Blondie Chaplin comando um quarteto de vocalistas de apoio.
No Security se saiu bem nas paradas, chegando aos 67º e 34º lugares das paradas do Reino Unido e EUA. Foi o suficiente para a banda iniciar uma segunda turnê, chamada No Security Tour, em 1999, inaugurando uma fase na qual o número de turnês aumenta enquanto os lançamentos de álbuns ou canções novas decaem drasticamente.

- Don’t stop, 2002
Os Rolling Stones celebraram 40 anos de carreira em 2002 e lançaram a coletânea Forty Licks para comemorar, um CD Duplo com 40 faixas, mas entre os maiores destaques da discografia do grupo (36 ao todo), ela veio com um single de faixa inédita, a primeira do século XXI: Don’t stop. Basicamente uma composição de Mick Jagger, escrita durante a preparação de seu quarto álbum solo, The Godness in the Doorway, mas que a guardou para os Stones por achar mais a cara do grupo. É uma boa faixa, com Jagger na guitarra base, e traz a tradicional companhia de Darryl Jones no baixo e Chuck Leavell nos teclados. Chegou ao 36º lugar das paradas do Reino Unido e 21º na Mainstream Rock da Billboard.
A coletânea ainda trouxe outras três faixas novas: Keys to your love, Stealing my heart e Losing my touch, e foi um enorme sucesso, chegando ao número 1 em vários países da Europa e ao 2º lugar no Reino Unido e nos EUA, além de embasar uma turnê mundial (Forty Licks Tour) com 117 shows entre agosto de 2002 e novembro de 2003.
A BIGGER BANG – 2005
Após um hiato de oito anos do último álbum (mas três turnês mundiais no intermédio: Bridges to Babylon Tour, No Security Tour e Forty Licks Tour), os Stones voltam à ativa com um disco mais íntimo: poucos músicos tocam além da própria banda, com uma sonoridade que tenta soar mais moderna, e se saí bem! Além disso, é o primeiro álbum duplo de estúdio da banda desde Exile on Main Street. No afã de serem apenas os Rolling Stones, o baixo é tocado por Mick Jagger (pela primeira vez em um álbum), Keith Richards e Ron Wood, alternadamente, embora Darryl Jones ainda apareça em algumas faixas.
Outros parceiros mantidos, mas com parcimônia, são o tecladista Chuck Leavell e Blondie Chaplin nos vocais de apoio. Quem está mais ausente desta vez é Ron Wood, que toca em apenas em 10 das 16 faixas, possivelmente por seus problemas com o alcoolismo. A produção cabe novamente a Don Was e o disco rende alguns destaques. Streets of love foi o primeiro single (em par com Rough justice, revivendo os tempos de Duplo Lado A!!!) e chegou ao 15º lugar das paradas do Reino Unido, além do Top20 da maioria dos países europeus, e nos EUA ficou em 25º lugar da Mainstream Rock Tracks e em 5º da Adult Alternative Songs. Rain fall down foi o segundo single e chegou ao 33º lugar das paradas do Reino Unido (e seria o último Top40 da banda em sua terra-natal até 2023!!!) e 13º na Adult Alternative Songs e 21º na Hot Dance Club Play, ambas da Billboard dos EUA. O terceiro e último single do álbum foi Biggest mistake, que chegou ao 51º lugar na Inglaterra e não aconteceu nas paradas dos EUA.
Além dos compactos, o álbum ainda gerou interesse em algumas outras faixas que ficaram populares entre os fãs, tocaram em rádios e foram executadas ao vivo, como This place is empty e Oh no, not you again. Em termos de vendas, A Bigger Bang chegou ao 2º lugar da Inglaterra e ao 3º dos EUA, além de ter sido escolhido como o segundo melhor disco do ano pela revista Rolling Stone. Uma grande turnê mundial se iniciou com o lançamento do disco, em agosto de 2005, e se estendeu até agosto de 2007, com 90 concertos, ainda que houve uma pausa no meio, pois num momento de férias, Keith Richards sofreu um grave acidente ao cair de um coqueiro nas Ilhas Fiji, que resultaram em traumatismo craniano. Porém, tão logo se recuperou, o riff’s master retomou a estrada com os companheiros. Foi no contexto dessa turnê, que os Stones tocaram para 1,5 milhões de pessoas num concerto gratuito na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2006, sendo o maior show da carreira do grupo.
- Doom and gloom, 2012
Em 2012, os Stones comemoraram 50 anos de carreira e, como uma década antes, celebraram com uma coletânea (Grrr!), que trouxe não uma, mas duas faixas inéditas gravadas para a ocasião. Era a primeira vez que a banda se reunia em estúdio em sete anos, desde as gravações de A Bigger Bang. Doom and gloom é principalmente de Mick Jagger, que também toca guitarra base e até faz o riff de abertura da faixa. Além de Richards, Wood e Watts, temos os comparsas de sempre: Darryl Jones no baixo e Chuck Leavell no órgão. Lançada como single, chegou ao 61º lugar das paradas do Reino Unido e ao 35º da Mainstream Rock da Billboard.
A canção foi usada em um momento importante do filme Vingadores – Ultimato, de 2019, quando o time de heróis se reúne para a missão de resgatar as Joias do Infinito. O filme é uma das maiores bilheterias da história do cinema.
- One more shot, 2012
Segundo single da coletânea GRRR, One more shot não é tão interessante quanto a anterior e não entrou nas paradas em nenhum dos lados do Atlântico, exceto na Rock Heritage da Billboard nos EUA, uma lista dedicada apenas às bandas clássicas, com décadas em atividade, na qual chegou ao 13º lugar.
BLUE & LONESOME – 2016

Após mais de uma década sem lançar um álbum, os Stones voltaram aos estúdios em 2016 pensando em gravar novamente, porém, aparentemente as canções novas não empolgaram. Em vez disso, o grupo decidiu tocar uma série de velhos blues, o gênero musical que lhes deu origem, e em apenas três dias registrou esse álbum, que é sensacional.
O disco traz releituras muito boas de Just your fool (de Buddy Johnson, adaptada por Little Walter), que foi o primeiro single e chegou ao 49º lugar da Hot Rock Songs da Billboard, e também ao 27º lugar da Adult Alternative Songs e ao 1º lugar da Digital Blues Songs, da mesma revista; o segundo single foi Hate to see you go (de Little Walter), que chegou ao 78º lugar das paradas do Reino Unido e ao 1º lugar da Digital Blues Songs da Billboard; e Ride’ em on down (de Eddie Taylor), foi o segundo compacto e o maior sucesso; e o álbum também traz a participação especial de Eric Clapton tocando guitarra em duas faixas (Everybody knows about my good things e I can’t quit you, baby). Novamente, é um disco basicamente tocado pelos Stones, com poucos convidados, além de Chuck Leavell nos teclados e Darryl Jones no baixo, mais Matt Clifford no piano e órgão. Vale destacar o belo trabalho de Jagger tocando gaita em várias faixas, algo que ele não fazia de modo constante desde o início dos anos 1960.
O mercado estava ansioso para ouvir os Stones: Blue & Lonesome chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e ao 4º da parada geral da Billboard, sendo o 1º lugar tanto da Top Blues Albuns quanto da Top Rock Albuns da mesma revista.

- Living in a ghost town, 2020
A partir de 2017, os Stones passaram a rodar o mundo na No Filter Tour, e já em 2018, começaram a falar em um novo álbum e Jagger e Richards disseram em entrevistas que estavam compondo novas canções, uma forma de tentarem se manter ativos em estúdio após “desistirem” de um álbum autoral pelos covers da última vez. De fato, em 2019, a gravação de um conjunto de novas faixas chegou a ser iniciada, em meio às turnês, mas Jagger teve que se submeter a um procedimento cirúrgico no coração, o que atrapalhou os planos, pois a excursão continuava naquele ano. Em 2020 uma nova turnê e possivelmente a finalização do novo disco viriam… Mas chegou a pandemia global da Covid-19 e tudo parou.
Jagger pegou a gravação inacabada dessa faixa, refez a letra e gravou novos vocais de modo remoto, lançando-a apenas alguns dias depois da banda realizar uma mini-apresentação virtual pela internet. Num momento em que não havia concertos e as pessoas não podiam sair de suas casas, o lançamento comentando as ruas vazias da cidade veio bem a calhar, foi uma boa sacada do grupo. Lançada online e com cópias físicas vendidas apenas pela loja virtual da banda, Living in a ghost town foi bem recebida pela crítica e fez sucesso, chegando ao 61º lugar no Reino Unido e ao surpreendente 3º lugar na Hot Rock and Alternative Songs da Billboard, uma lista que copila apenas canções de rock do cenário alternativo.
Infelizmente, terminou sendo a última canção inédita dos Rolling Stones lançada antes da morte do baterista Charlie Watts, em 2021.


HACKNEY DIAMONDS – 2023
Após 18 anos de um álbum de canções inéditas e sete de seu último disco completo, os Rolling Stones voltam à toda carga com Hackney Diamond. Sem Charlie Watts (que toca em apenas duas faixas gravadas em 2019) e com Steve Jordan assumindo as baquetas, a banda recruta um time de convidados célebres, com o ex-membro Bill Wyman, Elton John, Paul McCartney e Lady Gaga, além do jovem produtor Andrew Watt.
Dentre os destaques, Angry remete à clássica sonoridade dos Stones, foi o primeiro single do disco, com um belo videoclipe, chamou bastante à atenção da imprensa e do público e é um bom exemplo do repertório tardio do grupo, chegou ao 34º lugar das paradas do Reino Unido e ao 32º da Hot Rocks & Alternative Songs da Billboard; Bite my head off é um rock pesado, de tônica punk e traz o baixo distorcido de Paul McCartney; enquanto Whole wide world tem um quê do rock contemporâneo, parecendo até meio indie e isso é bom; Live by the sword é uma das duas que tem Charlie Watts na bateria, mais o baixo de Bill Wyman (primeira vez que gravava com o grupo desde 1991!) e o piano de Elton John e é um representante interessante de um som meio “anos 70”; Mess it up tem um estilo funky como daquelas faixas do fim dos anos 1970, traz de novo Watts na bateria (fruto das sessões de 2019) e foi o terceiro single do álbum, ainda que não tenha acontecido nas paradas; Tell me straight traz os vocais de Keith Richards em uma balada sobre morte e finitude; e Sweet sounds of heaven tem estilo gospel e as participações de Stevie Wonder nos teclados (piano acústico e elétrico e sintetizador) e Lady Gaga em uma explosiva participação vocal e dueto com Mick Jagger; foi o segundo single e chegou ao 2º lugar no Reino Unido e ao 45º lugar na Hot Rocks & Alternative Songs.
A qualidade do disco é alta e mostra a relevância que os Stones têm ainda no século XXI e o interessante é que, apesar do estrelismo das participações especiais, nenhum deles realmente tira o foco da banda e, ao contrário, todas elas são, na verdade, participações discretas (que nem seriam percebidas não fosse o estardalhaço da imprensa), à exceção de Lady Gaga, por causa de sua performance vocal explosiva. Dentre as demais contribuições, Matt Clifford toca teclados em 8 faixas, Benmont Tench toca órgão em uma, Don Blake e James King tocam trompete e saxofone, respectivamente, em duas faixas, ao passo que Steve Jordan toca a bateria em todas as canções, exceto aquelas duas pregressas de Watts. O baixo é tocado principalmente pelo produtor Andrew Watt (em 5 faixas), que também toca guitarra (em 2), percussão, teclado (em 1) e faz backing vocals. O baixo também é tocado por Wood (em 1 faixa) e por Richards (em todas as demais, incluindo Angry). Pela primeira vez desde 1994, Darryl Jones não toca em um disco dos Stones, enquanto Chuck Leavell é outra ausência marcante também.
Outro fato importante é que Andrew Watt ganha coautoria (assinando com Jagger & Richards) de nada menos do que três canções, justamente as três primeiras do álbum: Angry, Get close e Depending on you.
Hackney Diamonds foi recebido com chuvas de elogios do público e da crítica e foi um enorme sucesso, chegando ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e ao 3º lugar das paradas gerais da Billboard, sendo ainda o 2º lugar da Top Rock Albuns da Billboard.
Os Stones saíram em turnê e Mick Jagger se apressou em dizer que havia mais faixas pré-gravadas e que um próximo álbum poderia não demorar tanto tempo assim.

























amo os rolling stones e vida longa ao meu eterno amado Mick Jagger
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Gostaria de saber se atrá do LP dos Rolling Stones vinha uma recomendação “Este disco deve ser ouvido com volume alto”
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Alguns deles tinham sim, Paulo.
Acho que os Stones foram uma das primeiras bandas a por isso na contracapa dos discos.
Um abraço!
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achei que era uma peculiaridade do the rise and falls of ziggy stardust :v
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TROPEÇAM EM BETWEEN THE BUTTONS??? ABSURDO. ESSE E O “EXILE…” SÃO OS MELHORES MEU AMIGO
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Tive o meu primeiro disco dos Rolling Stones perto dos meus 14 anos e influenciou a minha maneira de tocar hje tenho 59 anos e continuo com esta técnica que muito agradeço aos Stones…
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Faltou o disco In Mono de 2016.
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Sim, Paulo César, é verdade. O texto é de 2012 e sofreu uma atualização mínima, mas vale à pena uma atualização maior que faremos em breve. De qualquer modo, In Mono é uma Coletânea e existem dezenas delas no mercado (incluindo as da ABKCO) e o foco da lista é mais os álbuns “de linha”. Mas obrigado pela lembrança! Um grande abraço!
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